Novas diretrizes visando um agro mais sustentável são indispensáveis

Especialistas e autoridades se reuniram para dividir ideias e opiniões
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A calorosa (literalmente) cidade de Cuiabá (MT) foi o local escolhido pelo Santander para a realização do seminário “A Força do Campo”, evento que reuniu autoridades, especialistas do setor e empreendedores rurais para debater a relevância do agronegócio, que é um dos principais setores da economia brasileira.

Norteando as discussões realizadas nos quatro painéis, a sustentabilidade foi personagem principal. A advogada especialista em direito socioambiental, Samanta Pineda, destaca que atualmente as pessoas da cidade perderam a conexão com o campo. Para ela, é preciso que o setor se una e pratique a sustentabilidade para fazer disso um diferencial brasileiro no exterior. “Temos capacidade, pessoas, legislação e tecnologia exclusiva desenvolvida especialmente para a produção tropical. Unindo esses conceitos, superaremos os gargalos para que possamos alcançar nossos objetivos”, indica.

Gráfico destaca que, analisando a ocupação e uso das terras no Brasil, mais da meta é formada por vegetação nativa, sendo que a parte abrangida pelas propriedades rurais também possui áreas de preservação (Foto: f&f)

O Brasil caminha a passos largos para esta meta. O Mato Grosso, por exemplo, é o grande destaque nacional com um rebanho superior a 30 milhões de cabeças, classificado como o segundo maior exportador de carnes do Brasil, responsável por 23% das exportações do ano passado e 25% das vendas externas destinadas aos EUA. A capacidade de abate diário é de aproximadamente 24 mil cabeças, fato que não o impediu de evitar mais de 18 milhões de hectares desmatados. Sobre este último tópico, a pesquisadora da Embrapa (Brasília/DF), Lucíola Magalhães, destacou na palestra um gráfico mostrando a representatividade do setor rural neste resultado (veja ao lado). “Temos trabalhado intensamente para detectar a participação do agronegócio na preservação, representando todo o peso da legislação brasileira neste sentido”, justifica.

Parte dessa responsabilidade vem da gestão ambiental foi salientada pelo vice-governador de Mato Grosso e secretário de Meio Ambiente, Carlos Fávaro. De acordo com ele, é preciso superar os gargalos nesse sentido para abrir a porta da legalidade, gerando uma atividade que produza e preserve ao mesmo tempo. “Os gargalos são a estrutura operacional do órgão ambiental, o tempo de resposta desse mesmo órgão; o tempo de manifestação dos órgãos intervenientes, a judicialização do licenciamento e a qualidade de projetos apresentados”, pontua. Fávaro ainda elenca as metas do governo para o período 2016/2017:

  • Plano para Regularização Ambiental dos Assentamentos Rurais;
  • Implementação do Sistema Estadual de REDD+ (Fundo Althelia);
  • Criação do Batalhão de Emergências Ambientais – BEA (Sema + Corpo de bombeiros);
  • Atualização do Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento e Queimadas;
  • Força-tarefa em fiscalização;
  • Força-tarefa em Regularização Ambiental e Desembargo;
  • Programa Novo Campo (Fundo Althelia).

Um dos precursores do tema sustentabilidade na pecuária no Brasil, Fernando Sampaio, atual diretor executivo do Comitê Estadual de Estratégia PCI, enfatiza que todos estão procurando por produtos sustentáveis, e que eles estão no Brasil, aguardando o empenho para maior valorização no mercado. Sobre desenvolvimento sustentável, ele fez um comparativo ao analisar não somente a cadeia produtiva, mas toda uma paisagem. No vídeo abaixo, ele fez uma analogia com a paisagem urbana brasileira, em que a maioria das cidades é cheia de prédios, condomínios, shoppings, que nada mais são do que a “privatização do espaço público”.

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A importância da preservação já não é mais pauta, este é assunto acatado por todo o setor. Agora, a pergunta é: a sustentabilidade tem preço? Por que ela não é precificada? Por que a pegada de carbono não pode ser cobrada? “O consumidor, para ter tudo isso, vai ter que pagar. O que temos que fazer é cumprir a lei. Temos que brigar pelo desmatamento ilegal zero, pelo trabalho escravo zero, pelas boas práticas de produção, e se isso não estiver na lei, precisamos acrescentar e fazê-la ser cumprida”, determina o diretor Executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat, Cuiabá/MT), Luciano Vacari.

Futuro promissor. Anfitrião do dia, o presidente do Santander, Sérgio Rial, destaca que o Brasil precisa ter mentalidade mais madura, investindo em universidades e na demolição dos muros de desconfiança com relação ao setor privado. “Mato Grosso precisa ser referência em tecnologia agrícola no País, tornando-se um centro de excelência interligado com os maiores do mundo, principalmente os EUA, que criaram a melhor estrutura universitária do planeta. Isso atrai talentos, e precisamos fazer o mesmo”, enfatiza.

O governador do MT, Pedro Tasques, aponta a responsabilidade do País, e isso recai em peso sobre o Estado, em alimentar o mundo em 2050, quando haverão nove bilhões de pessoas no planeta. “O futuro é hoje. Se não nos preocuparmos com o futuro agora, nós não chegaremos a este futuro”, fala. Ele também criticou a “incompetência dos últimos anos na falta de criação de regras e marcos regulatórios que pudessem trazer confiança e segurança ao sistema”. O governante também aponta que a indústria rural tem processos e comportamentos diferentes da urbana, e que portando não se deve permanecer arraigado a conceitos ideológicos do século 19.

De volta recentemente de uma viagem ao Oriente Médio para esclarecer pontos sobre a cadeia produtiva brasileira, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF), Blairo Maggi, percebeu claramente que os movimentos que acontecem no Brasil, afetam a percepção que os mercados tem com relação ao País. “Eu visitei quatro países, e todos disseram a mesma coisa: ‘vamos mudar nossa posição a respeito da compra de alimentos, queremos uma segurança alimentar maior’. Isso porque a crise sanitária, política ou qualquer outra que acabam não permitindo que o alimento chegue a tempo na mesa dos consumidores, gera problema para esses países. Temos que nos adequar a isso”, finaliza.