Recessão derrubou abate de bois em 2016; aquisição de leite caiu 3,7%

IBGE divulgou os dados relativos aos abates e captação de leite em 2016

Ao mesmo tempo em que contribuiu para a redução dos abates de bovinos no Brasil, a recessão estimulou a produção de carnes mais baratas no país, o que resultou em abates recorde de frangos e suínos no ano passado. Em linhas gerais, essa é a avaliação do gerente de pecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Maxwell Mercon Tezolin Barros Almeida. Ontem, o instituto divulgou os dados relativos aos abates e captação de leite em 2016.

“Os indicadores do IBGE têm mostrado recessão por dois anos consecutivos. Com PIB negativo, e desemprego aumentando, isso diminuiu o poder aquisitivo da população. E isso se reflete sobre o mercado das carnes”, disse Almeida.

No caso dos bovinos, os abates com algum tipo de inspeção sanitária – municipal, estadual ou federal – totalizaram 29,67 milhões de cabeças em 2016, redução de 3,2% sobre o ano anterior. Trata-se da terceira queda anual consecutiva.

Em entrevista ao Valor, o gerente do IBGE lembrou que a redução dos abates de bovinos reflete o elevado volume de descarte de matrizes – vacas reprodutoras – em 2013. Como o ciclo de gestação do animal é longo, em torno de nove meses, o rebanho de 2016 ainda continuou a sentir os efeitos dessa decisão, típica dos ciclos da pecuária.

Com a redução na oferta de boi gordo, a arroba do animal se valorizou. Devido ao preço mais elevado – que também se refletiu no valor da carne bovina ao consumidor -, a demanda caiu, afetando os abates, observou o especialista do instituto.

Por outro lado, o especialista do IBGE afirmou que os abates não fiscalizados de bovinos podem ter crescido no ano passado. É o que parecem indicar as aquisições de couros pelos curtumes. Em 2016, 33,62 milhões de peças foram adquiridas no país, alta de 1,4%.

Além do menor abate de bovinos, o levantamento do IBGE também mostrou queda na aquisição de leite pelos laticínios no ano passado. As indústrias adquiriram 23,17 bilhões de litros, recuo de 3,7% em relação a 2015, quando a produção inspecionada já havia recuado. Almeida explicou que, além do custo mais alto de produção – sobretudo em razão da disparada do preço do milho usado na ração -, os criadores de vacas leiteiras sofreram, em 2013 e 2014, com o preço mais baixo do leite, o que desestimulou a produção nacional nos anos seguintes.

“Em 2016, houve uma arrancada de preço alto no leite”, acrescentou o gerente do IBGE, observando que isso se deveu à continuidade de cenário de menor oferta. Com o preço mais alto, a demanda diminuiu, reduzindo o volume de leite adquirido pelos laticínios.

Do lado positivo, o IBGE revelou ontem que os abates de frangos e suínos bateram recorde em 2016. Ao todo, os frigoríficos abateram 5,86 bilhões de cabeças de frango no ano passado, aumento de 1,1% No mesmo período, os abates de suínos subiram 7,8%, para 42,3 milhões de cabeças.

De acordo com o especialista, tanto a carne de frango quanto a suína foram beneficiadas, em 2016, pela boa demanda do mercado externo, o que também favoreceu os abates no país.

No ano passado, a produção brasileira de ovos também bateu recorde. Ao todo, foram produzidas 3,1 bilhões de dúzias, incremento de 5,8% sobre 2015.