Irã amplia compras e aparece entre os principais importadores do Brasil

O valor das exportações brasileiras para o Irã aumentou 21,4% no primeiro quadrimestre deste ano, em relação a igual período de 2016, e chegou a US$ 806,8 milhões

O valor das exportações brasileiras para o Irã aumentou 21,4% no primeiro quadrimestre deste ano, em relação a igual período de 2016, e chegou a US$ 806,8 milhões.

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), o país do Oriente Médio chegou, em abril, à 15ª posição entre os principais destinos dos produtos brasileiros. Há dois anos, os iranianos não apareciam no top 30 da tabela.

Para esse avanço, foi fundamental a retirada dos embargos comerciais ao Irã, no começo do ano passado, pelo então presidente americano Barack Obama. “Com a liberação dessas sanções, o país recebeu um grande montante em investimento nos meses seguintes”, diz Jorge Mortean, consultor da Mercator Business Intelligentsia, empresa especializada em negócios com Oriente Médio, Norte da África e Ásia Central.

O posicionamento do governo dos Estados Unidos também deve determinar o futuro dessas trocas comerciais. “O atual presidente [Donald Trump] tem uma retórica pouco favorável ao Irã. Se ele colocar esse discurso em prática, podemos voltar a uma situação com barreiras comerciais”, indica Mortean.

A abertura para o comércio global também favoreceu a economia iraniana, que deve crescer 3,3%, em 2017, e 4,3%, no ano que vem, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O enriquecimento da população local, que se aproxima dos 80 milhões de pessoas, também impulsiona as compras de produtos brasileiros.

Commodities à frente

Os produtos que puxaram o aumento das exportações para o Irã, entre janeiro e abril, foram carnede bovino, açúcar de cana e chassis para automóveis. A exportação do primeiro item cresceu 27,2%, no embate com o primeiro quadrimestre de 2016, e chegou a US$ 139,5 milhões. Já as vendas de açúcar e chassis avançaram 539,8% e 132,5%, para US$ 134,4 milhões e US$ 17 milhões, respectivamente.

No recorte por fator agregado, é vista maior participação da venda de produtos básicos, que representam quase 90% das vendas. Segundo Mortean, entretanto, há espaço para um avanço das vendas de manufaturados brasileiros. “Algumas empresas apostam, inclusive, na internacionalização. Tromantina e Havaianas, por exemplo, já tem lojas no Irã”, acrescenta o entrevistado.

Mesmo com o quadro positivo, Romana Dovganyuk, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Irã, afirma que o aumento dos embarques poderia ser bem maior.

“Os bancos brasileiros dificultam o financiamento das operações e há excesso de burocracia nas alfândegas daqui. Sem esses problemas, as exportações poderiam crescer o dobro do que estão crescendo hoje”, defende ela.

Sobre as importações de produtos iranianos, a executiva afirma que o preconceito dos brasileiros impede uma expansão das trocas comerciais. “Até alguns funcionários públicos daqui tem uma visão preconceituosa. Acho que falta um pouco de conhecimento sobre o Irã”, afirma ela.

Via de mão única

Entre janeiro e abril deste ano, as aquisições de mercadorias do país asiático cresceram 388%, na comparação com igual período de 2016, e chegaram a US$ 36,5 milhões. Apesar do aumento, o montante das compras não representa 5% da quantia registrada pelas exportações no período.

“É uma balança comercial bem desequilibrada”, diz Mortean. Ele concorda que falta “conhecimento” aos brasileiros sobre os produtos iranianos e destaca que há boas oportunidades para importadores. “Muitos setores da indústria deles são mais desenvolvidos que os nossos, mas essa informação é pouco disseminada por aqui. Os iranianos conhecem muito mais sobre o Brasil do que o contrário.”

No primeiro quadrimestre, os itens mais comprados dos iranianos foram a ureia com teor de nitrogênio (US$ 21,7 milhões), os produtos semimanufaturados de ferro ou aço (US$ 11,9 milhões) e os espelhos de vidro (US$ 1,2 milhão).

Melhores opções

Os especialistas consultados pelo DCI ressaltam que vários países orientais são boas apostas no comércio internacional. É o caso de alguns vizinhos do Irã, como a Arábia Saudita, a Argélia, o Egito e a Turquia, que são citados como boas alternativas para exportadores e importadores brasileiros.

“As pautas comerciais desses países são bastante diversas, mas a maioria deles tem em comum a perspectiva de um bom crescimento econômico e de um aumento do poder de compra de suas populações no curto prazo”, explica Mortean.

Entre os membros da região, a Arábia Saudita tem destaque. O país, que ocupa a 12ª colocação entre os principais compradores de produtos brasileiros, ampliou suas importações em 24,5% no primeiro quadrimestre deste ano. Já a Turquia, 30ª melhor colocada, gastou 6,2% a mais durante o mesmo período analisado.