Empresas já veem brechas com Brexit

Mudança no Reino Unido traz algumas oportunidades e favorece acordo bilateral do país com o Brasil. Em 2017, trocas comerciais e intercâmbio de investimentos caem
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Foto: Dreamstime

A saída do Reino Unido da União Europeia, que deve ser consumada apenas em 2019, traz oportunidades para empresários brasileiros. Isso porque os britânicos já estão atrás de novos parceiros comerciais e oportunidades de investimento pelo mundo.

Uma das brechas abertas por essa saída, chamada de Brexit será a possibilidade de produtores exportarem para o Reino Unido sem os limites impostos pelo sistema de cotas da União Europeia, que estabelece uma quantidade máxima para os embarques de determinados produtos. É o que afirma Jean-Claude E. Silberfeld, responsável pela área internacional da FecomercioSP. Segundo ele, os vendedores de açúcar estão entre aqueles poderão ser beneficiados pela mudança.

De forma mais ampla, Siberfeld acredita que o setor agroalimentar será um dos grandes favorecidos pelo Brexit. “A saída [do Reino Unido] da União Europeia faz com que os britânicos precisem encontrar novos fornecedores de alimentos. Aí está uma boa janela para o Brasil.”

Contudo, o especialista alerta que os empresários devem agir rapidamente. “Não adianta esperar até o começo de 2019 [período previsto para o Brexit] para começar a trabalhar nessa área”. Segundo ele, os britânicos já têm negociadores espalhados pelo mundo para garantir o futuro do país depois da saída do bloco europeu.

E o Brasil é visto com bons olhos pelo Reino Unido, afirma Bernardo Ivo Cruz, ex-presidente da Câmara de Comércio Luso-Britânica de Londres. De acordo com o especialista, a China, a Coreia do Sul e o Brasil aparecem no topo da lista de “parceiros estratégicos” dos britânicos para os próximos anos. “Já começaram as conversas informais [do Reino Unido] por acordos bilaterais, que poderiam ser assinados após a conclusão do Brexit”, acrescenta ele.

Além das exportações brasileiras, segue o entrevistado, o avanço de um tratado com os britânicos também poderia fortalecer as importações de serviços e aparelhos de alta tecnologia, principais itens oferecidos pelo Reino Unido.

Segundo os especialistas, a conclusão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que pode acontecer já nos próximos meses, não prejudicaria a relação com os britânicos. “Não acredito que isso vá ser um problema”, afirma Silberfeld.

Vendas em queda

As exportações para o Reino Unido totalizaram US$ 1,501 bilhão entre janeiro e julho de 2017, uma diminuição de 3,1% na comparação com igual período do ano passado. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

Em direção oposta à da maior parte dos países do mundo, que ampliaram as compras do Brasil neste ano, as aquisições britânicas foram puxadas para baixo pela operação Carne Fraca, realizada no primeiro semestre. Entre os principais produtos vendidos para o Reino Unido entre janeiro e julho, foram registradas baixas em três itens da indústria de proteína animal.

Com isso, os britânicos caíram para a décima nona posição entre os principais compradores de itens brasileiros, sendo superados por Irã, Cingapura e outras economias de menor expressão.

Também foi vista queda do investimento do Reino Unido no Brasil. Os aportes em participação no capital, por exemplo, chegaram a US$ 651 milhões entre janeiro e julho deste ano, uma diminuição de 24,6% no confronto com igual período do ano passado, de acordo com o relatório de setor externo do Banco Central (BC).