Estresse hídrico, clima política e sucessão no radar do primeiro dia do Acricorte

Maior encontro técnico da pecuária de corte do Brasil, o Acricorte trouxe alertas e um convite à mudança de mentalidade do pecuarista em seu primeiro dia. Organizado pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), o evento iniciou nesta quinta (10) no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá.

Na solenidade de abertura, que contou com representantes do poder público, entidades do agro mato-grossense e um público superior a mil pessoas no auditório, o presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, destacou a união dos pecuaristas dentro e fora do evento. “É por esta união que conseguimos avançar em pautas importantes, tanto em âmbito estadual como nacional”, declarou.

Além da diferenciação na cobrança do Fethab sobre o abate de fêmeas bovinas, que segue para sanção do Governo do Estado, o setor comemorou a criação da Associação Nacional da Pecuária (Anapec), que reúne entidades representativas da pecuária brasileira. Além da Acrimat, são membros fundadores Acrimasul, Acripará, Assocon, Apron e Anpto – que, juntas, representam 107 bilhões de cabeças de gado, ou 45% do rebanho nacional.

Ao todo, cinco palestras foram realizadas nesta quinta (10) no Acricorte. A inserção do bom uso dos recursos hídricos na pauta do pecuarista mato-grossense foi o alerta feito pelo doutor em Engenharia Ambiental e pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Júlio Palhares. Isso porque, em 2024, Mato Grosso foi o estado brasileiro que mais perdeu superfície de água. Foram 291 mil hectares a menos, o equivalente a uma queda de 34% em relação a 2023, de acordo com dados do MapBiomas.

Menos água disponível no campo é sinal de riscos para o desenvolvimento do rebanho. Porém, a preocupação com os recursos hídricos ainda não está na rotina do produtor rural. “Não há o hábito de se medir o consumo de água na propriedade, mas o fato de eu ter sido chamado para o Acricorte reflete o que vocês, pecuaristas, estão sentindo na fazenda: estresse hídrico”, destacou o pesquisador.

O cenário se torna um pouco mais preocupante porque, em Mato Grosso, as regiões de maior estresse hídrico estão coincidindo com as áreas de maior potencial de intensificação da pecuária, alertou o palestrante. “No passado, predominou a atenção hídrica, mas este século demanda ação hídrica, concreta”, reiterou o pesquisador. Em sua fala no Acricorte, Palhares deu várias dicas e recomendações sobre manejo hídrico, conforto térmico dos animais e nutrição do rebanho, além de cuidados com o solo.

Luiz Carlos Molion, PhD em Meteorologia, mostrou que nos próximos anos o clima tende a se manter mais seco, mas sem grandes riscos para a produção agropecuária. “Não se preocupem, pois o sistema climático se auto regula”, afirmou. O meteorologista, entretanto, chamou a atenção para a inexatidão nos modelos meteorológicos largamente adotados.

“Ninguém no mundo tem condições de prever clima, essa é uma missão impossível. Modelos de clima são códigos de computador que não entregam uma previsão de chuvas confiável. São um lixo”, alertou Molion. Mostrando dados próprios de um sistema de similaridade de clima baseado em análise histórica, o meteorologista previu duas tendências: a redução da radiação solar e mudanças na circulação atmosférica.

Já no ambiente político, os riscos são maiores. Recuperando a história recente do Brasil, o ex-ministro da Agricultura, Antônio Cabrera, mostrou como é importante que o pecuarista acompanhe os fatos políticos para evitar que a atividade seja impactada por leis restritivas. “Já tivemos preços tabelados, confisco cambial e hoje se fala em restringir as exportações. Mas foi na abertura comercial que o agro brasileiro se desenvolveu”, salientou Cabrera.

Uma ferramenta importante nesse contexto é a comunicação baseada na informação qualificada. “Quem domina a informação, orienta os negócios. Precisamos virar o disco e nos comunicarmos melhor com o consumidor final, falando mais sobre os diferenciais do agro brasileiro e adotando uma nova perspectiva. Acho que faz muito mais sentido, por exemplo, termos um Ministério da Comida, ou do Alimento no Prato, do que da Agricultura”, provocou Cabrera.

A mudança de mentalidade também foi a base para outras duas palestras do primeiro dia do Acricorte. Marco Túlio Duarte Soares, diretor da Acrimat e pecuarista, mostrou como a pecuária de precisão pode levar ao aumento do rendimento tanto da carne quanto da rentabilidade do pecuarista. “Basta usarmos ferramentas já disponíveis, como o mapeamento genético e ultrassonografia de carcaça. Esse é o caminho para não sermos mais vistos pelo mundo como simples fornecedores de commodities”, pontuou.

No caso do advogado Luiz Paulo Jorge Gomes, que falou sobre planejamento patrimonial e sucessório, o convite foi para que os pecuaristas antecipem para “os momentos fáceis” a decisão sobre o futuro da propriedade. “Não adianta ir atrás de mágica. O melhor caminho para proteger seu patrimônio é investir no planejamento e pensar desde já sobre como será a sucessão dos negócios rurais”, observou.
Esta é a quinta edição do Acricorte. No primeiro dia do evento, as palestras atraíram mais de mil participantes. Na feira comercial, mais de 75 marcas estão expostas em estandes.

Dentre as principais empresas expositoras em 2025 estão: Matsuda, Trouw Nutrition, Sicredi, Zootec, Globalgen / UCBVET, Minerva, Alvorada, Atto Sementes, Confraria Carcaça Nelore, IMAC, Currais Itabira, Senar, Marfrig, Agroceres, Balanças Açores, Estância Bahia, FS Bioenergia, Fortuna, UPL, Banco Genial, Nuctramix, Premix, Friboi, Programa Leilões, Dual, Corteva, Icofort, Meta Soluções Ambientais, MSD, Inpasa.