De origem ‘caipira’, o filósofo e educador Mário Sérgio Cortella convidou os mais de 4 mil pecuaristas presentes no Acricorte a “levantarem e enfrentarem, juntos”, os desafios gerados pelo cenário mundial atual. O tom inspiracional pautou a programação do segundo dia do evento, maior encontro técnico da pecuária de corte do Brasil, organizado pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Ciente da preocupação sobre a cobrança da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo dos Estados Unidos, incluindo a carne, Cortella mostrou porque o medo com essa situação é saudável. “Tem medo da situação atual? Ainda bem. Mas, ao invés de sentar e chorar, levante e enfrente. De preferência como estão fazendo aqui, juntos, e não sozinhos, porque daí o bicho foge”, provocou o filósofo.
A abertura à troca de conhecimento e qualificação também esteve em pauta. “Ouvi hoje que a nossa pecuária começa no Brasil em 1534. Mas não se preocupem em ficar idosos, mas velhos. O velho é aquele que não atualiza a sua capacidade, que não se abre ao que não conhece, que fica fechado às reflexões e se nega a ouvir quem não está habituado. Para não ficarmos velhos, precisamos reinventar, recriar”, argumentou Cortella.
Essa abertura ‘ao novo’ também esteve na fala de Maurício Velloso, pecuarista e presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). De acordo com ele, historicamente o pecuarista tem se mostrado mais refratário a novidades tecnológicas – o que é um grande desafio para a “pecuária do amanhã”.
“É fundamental desenvolver competências, sem receita mágica. O pecuarista precisa descobrir qual é a sua melhor produtividade, medindo resultados, investindo para ter caixa e comida de sobra, cultivando amizades que lhe façam crescer e melhorando a operação todo dia 1%”, listou Velloso.
Mostrando dados sobre o agro brasileiro, o antropólogo Professor Martins adicionou um outro item à lista de Velloso: foco. “O futuro do Brasil é maior do que o passado e do que este momento difícil. Hoje, de cada cinco pratos de comida, um é produzido pelo brasileiro. A gente é grande demais e não tem mais o direito de ser medíocre”, enfatizou.
Presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, concordou com o professor Martins. “Que nós, pecuaristas, nunca percamos a nossa vontade de continuar produzindo alimento para todos”, reiterou no encerramento do Acricorte.
MERCADO – O conhecimento sobre o mercado financeiro esteve presente na programação do evento neste ano, por ser uma das competências necessárias ao pecuarista. A palestra de Letícia Gouveia, especialista em bolsa de valores, foi bem pedagógica. Ela explicou quais são as ferramentas e soluções mais indicadas para que o pecuarista possa ter mais segurança. “O produtor não precisa ser trader. O que ele precisa é ter visão do negócio e conhecer as opções disponíveis para executar as melhores estratégias para se proteger”, orientou ela.
A capacidade de unir equipes, engajar e liderar na propriedade rural foi a tônica principal da palestra do zootecnista Ricardo Arantes. Mostrando a importância da liderança situacional, o palestrante enfatizou o quanto as pessoas definem qualquer processo bem sucedido de gestão. “Quem vai te dizer se você é um bom ou mau líder é a sua equipe, liderar é colocar o outro no topo. Por isso, invista na sua comunicação, faça reuniões, ouça sua equipe. A responsabilidade da gestão não é do colaborador, mas de quem lidera”, enfatizou.
Convidando os pecuaristas presentes no Acricorte a tornarem as propriedades lugares mais aprazíveis, Ricardo lembrou o quanto o ambiente de trabalho influencia os resultados. “Todo mundo gosta de beleza e cuidado. Somos pessoas”, afirmou. E enfatizou o aspecto humano nas relações profissionais. “Meu avô trabalhou muito com as mãos. Meu pai trabalhou com as mãos e um pouco com a cabeça. Meu filho vai trabalhar menos com as mãos, mais com a cabeça, mas principalmente com o coração”, reiterou.
Em 2025, o Acricorte recebeu mais de 4 mil pessoas nos dois dias do evento. A quinta edição totalizou dez palestras técnicas e uma feira comercial com mais de 75 marcas. Dentre as principais empresas expositoras em 2025 estão: Matsuda, Trouw Nutrition, Sicredi, Zootec, Globalgen / UCBVET, Minerva, Alvorada, Atto Sementes, Confraria Carcaça Nelore, IMAC, Currais Itabira, Senar, Marfrig, Agroceres, Balanças Açores, Estância Bahia, FS Bioenergia, Fortuna, UPL, Banco Genial, Nuctramix, Premix, Friboi, Programa Leilões, Dual, Corteva, Icofort, Meta Soluções Ambientais, MSD, Inpasa.