Adubação bem-feita aumenta em até 4x lotação no pasto

Sabendo planejar o manejo, produtor garante oferta de capim de qualidade para o gado e colhe também outras vantagens

Se a produção de carne depende de uma lavoura, esta é a de capim. Folhas amareladas ou de um verde claro podem ser sinal de falta de nitrogênio. Aquelas secas nas pontas, de insuficiência de potássio. De olho na gestão da fazenda e na nutrição do gado, o pecuarista pode mensurar os benefícios de fazer uma adubação. Quando bem planejada, a estratégia pode dobrar, triplicar ou até quadruplicar a lotação por hectare.

Em sistemas intensivos, acompanhamento da fertilidade deve ser mais frequente

Em sistemas intensivos, acompanhamento da fertilidade deve ser mais frequente

Tudo depende do ponto de partida. “Se você considerar pastagens degradadas com lotação de 0,5 cabeça/ha, com a calagem e adubação você consegue aumentar muito isso. Agora, tratando-se de pastagem recém-formada, em área de rotação com agricultura, a situação já é diferente”, afirma Marcelo Pereira, engenheiro agrônomo e técnico na transferência de tecnologia da Embrapa Gado de Corte.

Segundo ele, os objetivos do produtor devem ser realistas, e seguir um planejamento. “De nada adianta intensificar e não olhar para todo o sistema produtivo. Porque uma adubação sem planejamento pode aumentar a produção de forragens, mas também aumentar o déficit da oferta de alimento entre o período de chuvas e a seca”, diz.

Antes de mais nada, a recomendação é ter foco no médio prazo, nos meses em que cessam as chuvas: “Saber quando vai vender a boiada, se vai suplementar, confinar, deixar uma pastagem diferida para quando diminuir a oferta de capim”.

Quando adubar? Dito isso, Pereira afirma que, a partir do planejamento do sistema de produção, o que vai determinar se a propriedade precisa ser adubada, e em que nível, é uma análise de solo. As adubações podem ser feitas tanto na formação da pastagem quanto, mais tarde, na manutenção da sua fertilidade.

A adubação de formação pode ser iniciada no final de um período chuvoso, com a aplicação de calcário, ou logo antes do início do ciclo das águas. “Considerando que estamos em agosto, agora é o limite para o produtor se decidir por iniciar o processo. Feita a calagem, aplicação de calcário, ele deve aguardar o início das chuvas para preparar o solo e, então, entrar com a adubação e semeadura da nova forrageira”, afirma o engenheiro agrônomo.

A adubação de manutenção segue outro calendário. “É ela que você vai procurar fazer quando identifica que a produtividade caiu ou mediante cálculo periódico dos níveis de extração”, diz.

Os níveis de extração referem-se tanto aos nutrientes extraídos pela produção de forragem e consumo animal quanto por fatores naturais. Pereira lembra ainda da necessidade de preservar os níveis não só de macronutrientes – N, P, K, magnésio, enxofre, cálcio – mas também de micronutrientes – ferro, manganês, zinco etc.  “Isso pode ser feito pedindo uma análise completa de nutrientes, ou, já que o custo não é muito alto, adicionando os micronutrientes ao fertilizante para as adubações de manutenção”, diz.

Em sistemas mais intensivos, como pastejos rotacionados, o acompanhamento da fertilidade do solo deve ser mais frequente, assim como as adubações de manutenção, preferencialmente todo ano.

Manejo – Pereira observa que a adubação está muito ligada ao manejo intensivo e que monitorar o estágio de desenvolvimento do capim é fundamental. “Conforme aduba, você favorece o crescimento da planta, então tem que ter uma contabilidade bem-feita do seu banco de biomassa e da sua capacidade de colheita”, afirma. Caso contrário, o capim pode passar do ponto, reduzindo seu valor nutritivo e palatabilidade.

Na ponta do lápis, o pecuarista pode considerar que cada animal consome, em média, de 1 a 3% de seu peso vivo em matéria seca de alimento diariamente. A variação ocorre por conta da categoria animal e, em especial, da qualidade da forragem – que varia ao longo do ano. Lembrando que as pastagens podem ter em média de 20 a 35% de matéria seca, uma novilha de 300 kg, por exemplo, consumiria cerca de 25 kg de forragem/dia. A partir do consumo das diferentes categorias animais é possível estimar a área total de pastagem demandada e qual a necessidade de pastos com maior intensificação.

Vantagens adicionais – Além do aumento da lotação, a adubação contribui para uma cobertura homogênea do solo pela forrageira, reduzindo a infestação de plantas invasoras. “Isso acontece porque o solo fica melhor coberto e a pastagem mais competitiva”, afirma Pereira.

Outro destaque é o aumento do teor de matéria orgânica do solo. “O fertilizante em si não traz matéria orgânica, porém, como ele aumenta a produção de biomassa, seja direta ou indiretamente (no caso do esterco), parte dessa matéria orgânica acaba sendo incorporada ao sistema”. O que pode proporcionar benefícios como: melhor retenção de água, aumento da ação de microrganismos e melhoria da estruturação do solo, podendo reduzir, inclusive, processos de degradação.

Custo – O maior gasto com adubação se dá com a compra de fertilizantes. Recentemente, em uma área com alta deficiência de nutrientes e na qual se queria intensificar a produção Pereira conta que foi recomendado uso de 450 kg de N/ha para adubação de formação e duas coberturas em um ano, totalizando, na região de MS, um gasto de cerca de R$ 700/ha.

Além do custo do adubo, que gira em torno de R$ 1.400/ton, o produtor tem que arcar com despesas menores: análise de solo, assessoria de um engenheiro agrônomo, equipamento, mão de obra para aplicação.