ARTIGO: Segunda com carne e sem remorso

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Houve um grande equívoco na recente propaganda do Bradesco, incentivando a redução do consumo da carne. Não acho que tenha sido produzida por má-fé.

Na verdade, em função dos numerosos artigos publicados, tanto do painel do clima como da mídia em geral, as pessoas são induzidas a acreditar que a pecuária é uma grande vilã da emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Vamos tentar desmistificar este conceito. Dois fatores terão que ser analisados. O primeiro diz respeito à origem do carbono emitido; e o segundo sobre a métrica utilizada para calcular as emissões.

Sobre a origem do carbono, poderemos analisar melhor, se fizermos um comparativo com as emissões do transporte. Esse setor da economia queima diariamente milhões de toneladas de combustíveis fósseis, cujos gases poluentes, que são exalados para a atmosfera, estavam guardados no subsolo. A atmosfera foi acrescida com 100% dos gases emitidos.

Com as emissões bovinas é diferente. Todo carbono emitido já estava na atmosfera e sequestrado via fotossíntese pelas pastagens.

O capim consumido pelos bovinos é fermentado no rúmen do animal e parte dele é eructado como metano, gás 25 vezes mais potente que o CO2 como efeito estufa, porém tem a grande vantagem de se decompor quimicamente após 10/12 anos. As novas emissões apenas ocuparão o espaço daquelas emitidas uma década atrás.

O mesmo carbono, ora está na atmosfera, ora nas pastagens e ora nos animais. No caso das emissões bovinas, 100% do carbono já estava na atmosfera. Não houve nenhuma emissão adicional. Os poluentes climáticos foram sequestrados e emitidos na mesma proporção.

Outro grande equívoco é a métrica utilizada para calcular as emissões da pecuária. O Painel do Clima recomenda para as instituições científicas (Embrapa inclusive) uma métrica em que usam um índice chamado de GWP – 100 (Potencial de Aquecimento Global), no qual todos os gases envolvidos são primeiramente transformados em equivalente CO2.

Nessa métrica, as emissões pecuárias ficam alteradas, pois o metano emitido, além de sofrer um multiplicador de 25, ainda é considerado efetivo por 100 anos. É quase incrível que o Painel do Clima considere o metano como um GEE com duração de 100 anos e não de 10/12 anos, que já é um consenso científico.

Além da neutralidade das emissões acima já comprovadas, estão em uso tecnologias que reduzem as emissões da pecuária e que também não são contabilizadas. Pastagens produtivas fixam carbono nas raízes, nos colmos e aumentam a humificação do solo. Pesquisas da Embrapa indicam que os sequestros chegam a compensar todas as emissões.

Os confinamentos, agem duplamente, tanto na redução da idade do abate, como na diminuição da intensidade da ruminação. O uso de ionóforos reduz em 15% as emissões. Uma indústria química colocará em uso este ano um novo ionóforo que promete até 90% das reduções. Vamos aguardar os resultados.

Também acho um grande preconceito a pecuária ser responsabilizada pelo passivo do desmatamento ilegal. Não é a demanda por carne que promove o avanço sobre as áreas de proteção.

A pecuária faz parte da solução climática. No final, pode-se até dizer: “Coma carne todos os dias e contribua para a redução dos poluentes climáticos.”

Arno Schneider, engenheiro agrônomo, pecuarista da Associação dos Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT) e membro da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).