Carne: Europa teme concorrência do Brasil, diz CNA

Associação europeia questiona qualidade do produto brasileiro. Em resposta, entidade envia carta mostrando como os pecuaristas respeitam normas

Uma das maiores associações de produtores rurais da Europa, a Copa-Cogeca, acusou o Brasil de produzir carne de má qualidade durante um seminário no Parlamento Europeu, em Bruxelas, no mês passado. A denúncia veio à tona após o Mercosul ter iniciado negociações para um acordo de livre comércio com a União Europeia. A CNA acredita que a crítica esconde uma preocupação com a concorrência e enviou uma carta ao presidente da entidade.

A carta, assinada pelo presidente da CNA, João Martins, foi enviada no dia 18 de dezembro, mas não teve resposta. O documento contesta as alegações feitas pela Copa-Cogeca, esclarece os europeus sobre a produção de carne no Brasil e convida o presidente da entidade a conhecer o modelo nacional.

Segundo a superintendente de relações internacionais da CNA, Lígia Dutra, as denúncias não são verdadeiras e citam que no Brasil não há regras sanitárias seguras, rastreabilidade e respeito ao bem-estar animal.

“O Brasil segue toda normativa nacional e internacional de vários organismos reconhecidos do qual a UE também faz parte. O Brasil implementou um sistema de rastreabilidade exclusivamente para a UE, que é o Sisbov. Esse sistema é reconhecido pelos europeus, que certificam nossa carne bovina. A produção brasileira segue rígidos padrões de bem-estar animal, também reconhecidos por organizações internacionais”, diz ela.

O coordenador de monitoramento estratégico do Ministério da Agricultura, Alexandre Bastos, confirma a informação da CNA sobre rastreabilidade e afirma que as regras seguidas pelo Brasil são mais do que suficientes para atender às exigências da União Europeia.

“Desde 2008 a gente pode dizer que, quase que anualmente, o Brasil sofreu missões por parte da EU. Apesar de pontualmente, terem apontado alguma coisa, essas missões consideraram bastante satisfatórios os controles realizados pelo serviço oficial brasileiro”, afirma o coordenador.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, está na Europa e se reuniu com parlamentares do bloco econômico para esclarecer dúvidas sobre o modelo produtivo brasileiro.

No encontro, Maggi reforçou que a legislação ambiental, trabalhista e social do Brasil é ainda mais rigorosa do que a europeia e convidou os políticos do bloco a conhecer a produção nacional.

Para Ênio Marques, ex-secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, as críticas feitas pela organização europeia são, na verdade, uma demonstração de medo do possível aumento da concorrência com o Brasil.

“Isso é recorrente. Sempre que acontece algum movimento que tende a demonstrar a possibilidade de facilitação de mercado, existem na Europa grupos que ficam preocupados. Além da insegurança, tem a questão do desconhecimento aparente. Eles sabem que não é verdade o que eles falam”, conclui Marques.