Consórcio capim-leguminosa aumenta produção em ILP

Produtividade da soja e ganho de peso médio dos animais aumentou quando foram introduzidos no sistema o feijão-caupi ou guandu

Plantio de soja após saída dos animais

Um experimento pioneiro realizado pela Embrapa Agrossilvipastoril em parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) quer trazer uma nova opção para os adeptos da integração-lavoura-pecuária (ILP). Além do tradicional plantio de capim após a soja, para produzir o boi safrinha, os pesquisadores introduziram em uma área de 160 hectares da Fazenda Gravataí, em Itiquira, MT, o cultivo de outras leguminosas. Em consórcio com braquiárias brizantha (Piatã, Paiaguás), ruziziensis e um Panicum (Tamani), foram plantados por duas safras na fazenda o feijão-caupi e o feijão-guandu. Casamento esse que vem dando certo, segundo o professor Edicarlos Damacena de Souza, da UFMT.

Integração – O manejo da área segue um ciclo. “Plantamos a soja em outubro e entramos com a gramínea a lanço e a semeadura do caupi ou guandu em fevereiro, depois da colheita da soja”, diz Damacena. O espaçamento usado tanto para o feijão caupi quanto para o guandu é de 45 centímetros entre linhas e a incorporação das sementes à palhada se faz por meio de um correntão. “Acoplado atrás da semeadora, o correntão vem e não revolve o solo”, explica o pesquisador. A ideia é que tudo seja feito em plantio direto. O pasto, que se forma na sequência, não é adubado e os animais entram na área quando a altura do capim é de, em média, 80 centímetros.

De acordo com Damacena, na fazenda, que também é uma unidade de referência técnica e econômica da Embrapa, o experimento foi conduzido com novilhas Nelore de 210 a 260 kg, que permaneceram em pastejo contínuo por 90 a 100 dias. A taxa de lotação variou de 3 UA/ha a 5 UA/ha, conforme a pastagem, sendo os animais retirados em setembro da área, para dar tempo de o pasto se recuperar e servir de palhada para a soja. Os dados das duas últimas safras apontam para um desempenho melhor tanto da soja quanto dos animais nas áreas onde foi estabelecido o modelo de consórcio gramíneas-leguminosas.

Produtividade da soja e ganho de peso dos animais – Na safra 2016/2017, em que o clima ajudou, enquanto as gramíneas solteiras permitiram que a soja fechasse o balanço produtivo na casa das 59 sacas/ha, nas áreas consorciadas com o feijão-guandu a produtividade da cultura, na média entre as gramíneas, foi de 63,44 sacas de soja/hectare. No caso do feijão-caupi, o ganho foi ainda maior, sendo colhidas 68,2 sacas de soja/ha. “Falando dos capins, os que mais se destacaram, com o feijão-caupi, foram o Piatã, o Paiaguás e a ruziziensis, que proporcionaram uma produção de soja de 70 sacas/ha”, diz Damacena. As combinações também chamaram a atenção quanto ao ganho de peso médio diário nos dois anos de avaliação da pesquisa, que foram semelhantes.

No consórcio do Paiaguás com o feijão-caupi, por exemplo, o ganho de peso entre as novilhas foi de 800 g/dia, sendo que no cultivo solteiro não passou de 500 g/animal/dia. Consorciado com a ruziziensis, a diferença foi menor, porém também expressiva, de 600 g/dia no cultivo solteiro, para 700g/dia na presença do feijão-caupi. Já o capim Piatã teve melhor desempenho consorciado com o feijão-guandu. Na média, o ganho de peso foi de 772g/dia no consórcio com esta leguminosa contra 715 g/dia no cultivo solteiro. Com exceção da braquiária BRS Piatã, todas as outras foram melhor com o feijão-caupi do que com o guandu, inclusive o Panicum Tamani, que proporcionou um ganho de peso de de 800g/dia/animal consorciado com o caupi; de 500g/dia consorciado com o guandu e de 600g/dia em pastagem solteira.

“De forma geral, a preferência do animal é pelo caupi porque o guandu é menos palatável no período vegetativo e o gado começa a ingerí-lo, de fato, só quando ele floresce”, afirma Damacena. No caso do Tamani, segundo ele, a diferença no desempenho é maior porque o animal prefere a planta do capim ao guandu, já que ela tem maior oferta de folhas.

O benefício de usar o guandu, no entanto, pode ser sentido em outras frentes. “Aquilo que não foi consumido vai ser importante para o solo, vai ser convertido em nitrogênio, vai colaborar para a produção de matéria orgânica”, exemplifica o pesquisador.

Nesta safra, será incluído entre os tratamentos um experimento com nabo forrageiro. “Nosso objetivo é criar alternativas para o produtor, levar informação sobre os consórcios em ILP e mostrar que na prática tivemos resultados positivos”, diz Damacena. Ainda este ano, junto à Embrapa, ele conta que serão realizados dois dias de campo para divulgar a tecnologia. “Visitando a área, as pessoas poderão conhecer mais essa alternativa para a safrinha”, afirma.

Os resultados apresentados na matéria fazem parte da tese de mestrado da aluna Juliana Mendes Andrade de Souza, da UFMT, que avaliou também os níveis de matéria orgânica, qualidade, atributos físicos e atividade enzimática no solo nos consórcios. Outros profissionais estão envolvidos na pesquisa, formando uma equipe de mais de 40 pessoas, coordenadas por Damacena e Francine Damian da Silva, da UFMT, e Flavio Jesus Wruck, da Embrapa Agrossilvipastoril, de Sinop, MT. O projeto como um todo é uma iniciativa da Rede de Fomento à ILPF, que reúne empresas públicas e privadas em torno da disseminação de tecnologias na área.