Desmame em foco

O estresse sofrido pelos bezerros nesse período pode afetar a produtividade nas fazendas
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Reduzir as perdas nos rebanhos desde os primeiros meses de vida dos animais tem sido um grande desafio de pecuaristas mato-grossenses. Até mesmo o estresse sofrido pelos bezerros no processo de desmame pode afetar a produtividade nas fazendas. Isso ocorre, principalmente, em decorrência da menor ingestão de alimentos e maior gasto de energia pelo animal, devido a intensa locomoção em busca da mãe.

É o que explica José Carlos Ribeiro, consultor da Boi Saúde – Pecuária Inteligente. Os anos de experiência na atividade resultaram na criação de um modelo de apartamento, diferente do tradicional, que reduz este impacto e, consequentemente, as perdas. “No modelo tradicional, os bezerros são apartados das matrizes e levados para um pasto separado, sem contato visual e auditivo com a matriz. Essa separação causa um estresse muito grande aos dois, que ficam dias na tentativa de localizar um ao outro”.

Ribeiro afirma que essa inquietude afeta diretamente na ingestão de alimentos pelo novilho, que tem uma significativa perda de peso. “E é justamente neste período que muitos produtores comercializam os bezerros para recria. Muitos deles não conseguem recuperar o peso que perderam antes de serem vendidos. Já se a intenção do produtor é o abate, este bovino também terá um período maior para se recuperar, indo contra as metas de reduzir o tempo do animal no pasto”.

Uma das soluções apontadas pelo consultor é modelo de desmame racional, que garante a proximidade da matriz e do bezerro após o apartamento. Isso é feito com a separação do pasto, com a construção de um corredor central de um a dois metros. “O produtor deixa a matriz de um lado e o bezerro do outro. Dessa forma, haverá o contato visual e auditivo entre ambos, que são sentidos importantes para o desenvolvimento do animal, mesmo que o contato físico não aconteça”.

Ribeiro explica que, por um período de dois a três dias, o garrote ficará na divisa do corredor, próximo da mãe, mas continuará se alimentando, além de ter um gasto menor de energia. Nos dias seguintes, o desligamento será gradativo, sem grandes impactos. “Em poucos dias o animal se habitua ao novo espaço, longe da mãe, e se alimenta normalmente. Tudo isso sem ter uma perda muito significativa de peso, ou seja, a recuperação será mais rápida. No modelo tradicional de desmame, este bezerro fica até uma semana procurando a mãe”.

Outra estratégia que vem sendo adotada em muitas fazendas é a desmama antecipada. Pesquisador da Embrapa Pantanal, Luiz Orcírio Fialho, afirma que o apartamento feito de forma precoce tem sido uma importante alternativa para aumentar as taxas de fertilidade do rebanho e garantir uma maior eficiência de produção de bezerros.

Neste sistema, o novilho é retirado da mãe por volta dos 110 dias (entre o 3º a 4º mês), durante a estação de monta. No apartamento natural, isso ocorre por volta dos 7 e 8 meses. “Nestes meses seguintes, até atingir o prazo de desmame natural, o animal recebe uma suplementação adequada, que garante boa digestibilidade, para que ele consiga desenvolver bem”.

Os custos com a suplementação, de acordo o pesquisador, são compensados com o maior índice de nascimentos no ano seguinte. Experimentos feitos em uma fazenda pantaneira pelo projeto Mais Cria, desenvolvida pela Embrapa, elevaram a taxa de prenhez de 75% para 96%. “Com a desmama natural, 75% das matrizes emprenharam. Já com a desmama antecipada, este percentual subiu para 96%. Isso significa que, de um lote de 100 matrizes, o produtor conseguiu 20 animais a mais numa estação”.

Outro resultado foi a manutenção do peso dos garrotes suplementados. “Pesamos os machos da desmama natural e os que foram apartados das matrizes antecipadamente, e o peso deles foi igual, 175 quilos. Isso mostra que, uma alimentação adequada e outros cuidados com o bem estar, garantem que o bezerro desenvolva bem. Não temos um ganho de peso, mas uma taxa de fertilidade do rebanho bem maior”.

Neste modelo, a recomendação, segundo Fialho, é que o bezerro seja apartado somente das matrizes vazias, que não emprenharam naturalmente, evitando gastos com alimentação desnecessários. “Na segunda quinzena de janeiro, o produtor identifica quais vacas ainda estão vazias e aparta os garrotes. Com o estresse natural do apartamento, a vaca retém o leite, o que causa uma modificação hormonal, e ela entra no ciclo reprodutivo. Isso garante um índice de prenhez maior”.