Do couro ao berro: derivados do boi são usados como matéria-prima nas indústrias

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Engana-se quem pensa que somente a carne é aproveitada de um boi quando o animal vai para o abate, no frigorífico. As possibilidades do uso do animal como matéria-prima para outros produtos, além da carne, são diversas e os produtores devem ficar atentos às oportunidades de negócio.

A opinião é do médico-veterinário, mestre e doutor em tecnologia de alimentos, Sérgio Pflanzer, que abordou o tema do aproveitamento dos produtos do boi durante sua palestra no Acricorte, que ocorreu nos dias 12 e 13 de maio, em Cuiabá. O evento é o maior encontro da pecuária de corte de Mato Grosso.

Em sua palestra intitulada “Do boi não se perde nem o berro. Para onde vão os co-produtos?”, Pflanzer fez uma explicação detalhada sobre quais as partes do boi são aproveitas para consumo e quais não são, mas que podem ser transformados em co-produtos com valor comercial.  

Foto: Jefferson Eduardo

Um boi com cerca de 440 quilos, por exemplo, tem 38% do seu peso composto por carne.  Enquanto isso, o restante, 62% do seu rendimento, não é carne. Porém, pode ser utilizado pela indústria graças ao desenvolvimento e avanço das tecnologias para melhorar o aproveitamento das carcaças.

“Muitas pessoas acham que o boi, quando foi para o frigorifico, a única coisa que se aproveita é a carne e todo o restante é descartado. Não é verdade. Daí o motivo da palestra. A ideia foi instigar as pessoas a pensarem mais sobre esse assunto”, afirmou.

Ainda segundo Pflanzer, muitas são as críticas, especialmente ambientais, em torno da grande porcentagem do animal que não é aproveitada para consumo humano. Entre elas, a de que o boi utiliza muita terra, muita água, emite muito gás carbônico, ou que o processo de cria até o abate seria muito demorado para se aproveitar tão pouca parte comestível.

No entanto, o aproveitamento do animal tem sido um importante fator na sustentabilidade da produção de alimentos, segundo Pflanzer, já que, a partir dele, os resíduos como couro, ossos, gorduras, miúdos, glândulas e sangue do animal, deixaram de ser descartados e passaram a ser utilizados de diversas formas pela indústria.

“Quando você fala sobre as pegadas de carbono, ambientais e sustentabilidade, todas as contas são feitas como se o bovino só produzisse carne. Quando na realidade, ele produz mais do que isso e isso acaba sendo esquecido”, reforçou.

Dados apresentados por Pflanzer mostram que, além da carne, o peso vivo de um animal é composto por: conteúdo do bucho (8,4%), couro (7,5%), ossos (4,1%), gorduras (4,1%), miúdos e glândulas (2,9%) e sangue (2,7%), entre outras partes que podem ser classificadas entre comestíveis e não comestíveis.

Do bucho, pode-se aproveitar o seu conteúdo para fins culinários enquanto a parte não comestível pode ser destinada para a fabricação de fertilizantes e biogás.  O couro é utilizado na fabricação de bolsas, calçados, revestimentos, material esportivo, roupas, por exemplo. Os ossos, que fonte de cálcio e fósforo, são usados na produção de farinhas e rações para cães, gatos e aves.

As gorduras, como o sebo, que não é comestível, serve para produção de velas, de sabão e de sabonetes perfumados. Os miúdos comestíveis, como a língua, rins e testículos do boi são utilizados em receitas culinárias.

Divulgação/Acrimat

Já o sangue dos bovinos é aproveitado para a produção de plasma, de soro, de farinha de sangue ou sangue solúvel. O plasma é usado na fabricação de embutidos e, do seu soro, confeccionam-se vacinas.

“O destino dos dejetos que são reutilizados na forma de biogás, para fertilizantes ou mesmo para compostagem. O couro é aproveitado para a indústria têxtil, automobilística, para a produção de gelatina por causa do colágeno. Temos os miúdos, que são comestíveis e não-comestíveis, rações que são feitas a partir das farinhas. O sangue…”, apontou o professor.

Ainda segundo o Pflanzer poder discorrer sobre a importância dos co-produtos do boi para o produtor e para toda a sociedade que consome ou se utiliza dele, em um evento como o Acricorte, é essencial para fortalecer a cadeia da pecuária de corte.

E, para além disso, é fundamental para sustentar todos os segmentos que dependem dos produtos de origem bovina para viabilizar seus negócios.

 “Essa foi minha primeira vez no Acricorte, fiquei bastante animado com o evento pelo tamanho, público e pelos palestrantes expositores. Esse é o tipo de fomento que precisa ser incentivado para o Estado e o Brasil. Trazer o produtor, a indústria, quem produz para um momento único de discussão. Isso valoriza muito a pecuária do Estado e a pecuária nacional”, finalizou.

Confira a apresentação completa aqui.