Estratégias para combater a cigarrinha-das-pastagens

Capins resistentes, controle cultural, químico e biológico: um passo-a-passo eficiente para evitar prejuízos com o inseto
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Entra ano, sai ano e uma certeza o produtor tem: irá encontrar cigarrinhas-das-pastagens quando chegar o período de chuvas. Nessa época, com a umidade, as ninfas eclodem dos ovos que estavam em dormência no pasto e, passam a sugar a seiva do capim. Alojam-se na base da planta, onde permanecem protegidas por uma espuma, evitando o ressecamento. Entrando na fase adulta, migram para as folhas e iniciam seu processo de reprodução.

De acordo com José Raul Valério, entomologista e pesquisador da Embrapa Gado de Corte, as cigarrinhas são as principais pragas que ameaçam as pastagens em toda a América Tropical – que vai do México à Argentina. Estimativas feitas a campo dão ideia do tamanho do problema: 25 adultos por m² são capazes de reduzir 35% da produção de matéria seca de pasto em dez dias. “A questão é que as pastagens são culturas de baixo valor por unidade de área, o que limita a adoção de medidas convencionais de controle”, afirma Valério.

CIGARRINHASUm exemplo ajuda a entender por que nem sempre o produtor prefere tomar alguma medida a observar de longe o prejuízo: “Vamos supor que para obter o mesmo rendimento de um hectare de algodão, você necessite de 15 hectares de pastagem. Diante de um ataque de insetos em ambas as culturas, para tratar 1 ha da lavoura o produtor terá de aplicar, por exemplo, 1 litro de determinado produto. Para a pastagem, a recomendação é igual, de 1 L/ha, o que na área total somaria 15L. Ou seja, o custo que ele terá para fazer o controle na pastagem é muito maior”. Considerando esse impasse, Valério destaca a importância de capins resistentes às cigarrinhas como principal medida preventiva às infestações, dentro de um manejo integrado de pragas, que contempla, também, outras alternativas, como o controle cultural, químico e biológico. Abaixo, você confere detalhes sobre essas estratégias:

Capins resistentes – É sabido pelo produtor que quanto mais diversidade de pasto melhor, principalmente para prevenir o ataque de pragas e doenças. Isso acontece em função da especificidade do indivíduo ou do seu complexo e pode valer por longos períodos de tempo. Segundo Valério, entre as vantagens de se adotar capins resistentes está, também, o fato de não haver intervenção no ambiente, no sentido de inserir elementos artificiais; além da facilidade de adoção da ferramenta, a partir da semeadura.

No caso das cigarrinhas, as cultivares mais resistentes são: B. brizantha cv. Marandu, B. brizantha cv. Piatã, Andropogon gayanus cv. Planaltina, Panicum maximum cv. Tanzânia, P. maximum cv. Mombaça, Panicum spp. cv. Massai, Panicum maximum cv. Zuri, Panicum maximum cv. Tamani bem como o híbrido de Brachiaria denominado Mulato II.

Controle cultural – Nessa alternativa de controle, contando com o manejo das pastagens, pretende-se evitar a conformação de um ambiente favorável à sobrevivência das cigarrinhas. Vale a pena, então, ajustar a carga animal para evitar sobras e, consequentemente, o acúmulo de palha no nível do solo. Esta condição, de grande quantidade de palha acumulada no solo e entorno das touceiras, gera um ambiente escuro e úmido no nível do solo, estimulando a emissão de raízes superficiais secundárias por parte da gramínea forrageira. Tais raízes são alimento em abundância para as ninfas das cigarrinhas, permitindo alta sobrevivência e, como resultado, elevados níveis populacionais. É importante lembrar, no entanto, que, no ajuste da carga animal, deve-se evitar o superpastejo.

Controle biológico – Outra opção complementar ao controle da cigarrinha, dentro do manejo integrado de pragas, é o uso do fungo Metarhizium anisopliae, que age parasitando a ninfa do inseto. De acordo com Luciano Zappelini, biólogo e gerente de produção e desenvolvimento da Koppert, o processo ocorre da seguinte forma: “o fungo produz estruturas chamadas conídios e quando esses conídios entram em contato com o tegumento da ninfa passam a se alimentar dela, o que leva o indivíduo à morte”. Aplicado no momento certo e em condições ambientais adequadas, a eficiência do controle chega a 95%, afirma Zappelini. Ainda, segundo o biólogo, o melhor momento é quando a infestação atinge nível mediano que, embora varie conforme o capim adotado, em geral, fica em torno de 15 ninfas por m². Quanto ao momento da aplicação, é indicado que se pulverize o produto no final do dia ou em dias nublados e com umidade relativa do ar superior a 65%. Os resultados começam a aparecer de quatro a dez dias depois, quando as ninfas da cigarrinha são completamente colonizadas pelo Metarhizium. O tempo varia conforme o microclima no pé da touceira. “Sobre os adultos o produto acaba tendo alguma ação, mas o objetivo principal é controlar a ninfa do inseto”, diz Zappelini.

Entre as vantagens de usar o produto biológico, o gerente da Koppert destaca a inexistência de período de carência para retornar o rebanho na pastagem tratada. “No caso dos químicos, em razão da presença de resíduos, esse período chega a 21 dias”, diz. De qualquer forma, ele lembra que Metarhizium é apenas um coeficiente na equação do controle dessa praga. “Para obter os melhores resultados é importante escolher variedades de capim mais resistentes às cigarrinhas, ter um pasto bem nutrido, bem manejado, solo fértil e descompactado”.897-pastagem

Hoje, o produto biológico é vendido tanto como pó molhável quanto como óleo emulsionável. A concentração de um e outro tipo varia conforme a cepa do fungo, que pode produzir mais ou menos conídeos em meio de cultura. “No caso, a Koppert, trabalha com a venda do fungo como pó molhável, que precisa ser diluído para aplicação na pastagem. A recomendação é de se aplicar 0,5 kg por hectare”, diz Zappelini. Chamado Metarril, o formulado dura em média 30 dias em prateleira à temperatura ambiente (25°C); 6 meses em geladeira (10°C) ou 365 dias no freezer. A manutenção das temperaturas indicadas é essencial para que o fungo chegue vivo à lavoura. O custo do saco de 1 quilo do produto é R$ 116,64.

Controle químico – O controle químico também pode ser usado como ferramenta do manejo integrado de pragas e para o controle de altas infestações de cigarrinhas. Voltado ao combate da cigarrinha adulta, a aplicação de um inseticida deve ser feita no momento adequado para não desperdiçar o insumo. “Não adianta nada o produtor fazer a aplicação quando o pasto apresenta sintomas de amarelecimento e morte generalizada de folhas, porque, nesse estágio, a maior parte das cigarrinhas adultas já morreu”, afirma Valério. Assim, o controle químico deve ter a cigarrinha adulta como alvo, no início de sua emergência. Uma vez feita a opção pelo controle químico, é importante ressaltar que o produto a ser aplicado deve ter registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para uso em pastagens. Dentre os princípios ativos aprovados há o Carbaril, o Clorpirifós, o Fenitrotiom, o Malatiom, o Naled e o Tiametoxan+Lambda-Cialotrina. Em consulta no Mato Grosso do Sul, o pesquisador encontrou um mesmo produto à base de Tiametoxam+ Lambda Cialotrina sendo vendido a R$140 e R$185.

Como dito anteriormente, a adoção de um conjunto de medidas integradas preventivas, ancoradas pelo uso de capins resistentes, resulta mais eficaz no controle da cigarrinha do que medidas isoladas sejam químicas ou biológicas.

Informações gerais sobre a praga – O ciclo total das cigarrinhas dura por volta de 50 dias, o que resulta em uma média de três gerações sucessivas na época das chuvas. No Centro-Sul, as espécies mais comuns são: Notozulia entreriana, Deois flavopicta e Deois schach. Na região Norte, estão presentes também a Deois incompleta e Mahanarva sp.

Tipos de danos – O maior estrago é provocado pelo inseto adulto, que, ao se alimentar nas folhas, injeta dois tipos de substâncias tóxicas na planta: uma que se coagula no interior dos tecidos da folha, bloqueia seus vasos condutores, desorganizando o transporte da seiva, e outra solúvel, que se transloca no sentido apical, determinando a morte dos tecidos. Os sinais característicos desse fenômeno são, inicialmente, listas cloróticas nas folhas, que secam a partir das pontas, tornando-se retorcidas. Em grandes infestações, pode ocorrer “queima” total da parte aérea do capim. Com exceção de plantas jovens, as cigarrinhas, em geral, não matam as touceiras, que rebrotam e se recuperam com o tempo. No entanto, o ataque reduz drasticamente o crescimento das gramíneas e sua qualidade nutricional (elas ficam fibrosas) e, por consequência, a capacidade de suporte das pastagens. As ninfas causam danos menores, geralmente o amarelecimento do capim, devido à sucção de sua seiva.