Falta ambição contra desmatamento, avalia ativista em evento de pecuária

Representantes do Greenpeace afirmam que ainda falta ambição dos governos no combate ao desmatamento.

Após lutar por mais de uma década por uma pecuária mais sustentável, o Greenpeace Brasil reconhece o esforço feito por Mato Grosso e por grandes redes varejistas ao rastrearem toda a cadeia da carne in natura no país. Entretanto, representantes da organização afirmam que ainda falta ambição dos governos no combate ao desmatamento.

Ativista Adriana Charoux, do Greenpeace, reconhece avanços

Ativista Adriana Charoux, do Greenpeace, reconhece avanços

A declaração foi feita pela ativista da organização não governamental Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace, durante o evento “Diálogos sobre Pecuária Sustentável” realizado nesta quinta (25), em Cuiabá. Na oportunidade, a maior rede varejista alimentar do país, Carrefour, anunciou o lançamento da sua plataforma de rastreamento da carne e outras grandes redes como Walmart e Pão de Açúcar já se comprometeram com a causa, segundo a Organização.

Embora existam boas notícias para o setor, a pecuária continua sendo a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia, conforme explica a ativista ao apresentar dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).  O estudo mostra que cerca de 60% das terras abertas na Amazônia hoje são ocupadas por pastos. “Quem diz isso é o INPE, não somos nós”, ressalta.

A última estimativa consolidada do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), divulgada em agosto do ano anterior, mostra que a taxa de desmatamento da região, entre agosto de 2013 e julho de 2014, chega a 5.012 km²/ano. Se comparado com o estudo anterior, o aumento foi de 16% em todo o país, quando a área desmatada foi de 5.831 km². Desse universo, Mato Grosso é responsável por 1.075 km², algo em torno de 21,4%, ficando atrás apenas do Pará cuja taxa chegou a 1.887 km², o que representa 37,3%.

“Não estamos mais naquele patamar horroroso que tínhamos um tempo atrás, cuja taxa chegava a 20 mil km² de perda florestal. A gente tem algo em torno de 5 mil e isso ainda é inaceitável. Não posso deixar de falar das responsabilidades dos governos. Na nossa percepção ainda falta ambição dos governantes, é preciso fazer mais”, dispara a ativista.

Diante desses números, o governo estadual reiterou as propostas e ações no combate ao desmatamento, bem como a redução de emissão de CO2. Essas medidas foram apresentadas em dezembro do ano passado, durante a Conferência Global do Clima (COP 21) em Paris. “Firmamos o compromisso de reduzir as emissões e zerar o desmatamento ilegal até 2020”, afirmou o governador Pedro Taques.

Para isso, Mato Grosso deverá atuar em três frentes: produção, conservação e inclusão (Estratégia PCI). Na produção, o estado pretende substituir 6 milhões de hectares de pastagens com baixo rendimento em áreas de alta produtividade, compostas por 3 milhões de hectares de plantio de grãos, 2,5 milhões de pecuária e 500 mil de floresta plantada.

Quanto à conservação, os pontos principais incluem, além de zerar o desmate, manter os 60% de vegetação nativa existente hoje no estado e recuperar 2 milhões de hectares de áreas de preservação permanente (APPs).  E a inclusão traz pontos ligados ao aumento, de 20% para 80%, da participação da agricultura familiar no mercado interno de alimentos, com a regularização fundiária em 70% dos lotes, com aumento do acesso ao crédito. Por fim, Taques fez questão de ressaltar que Mato Grosso possui uma área de 900 mil km², e mantém 60% do seu território preservado. “Isso equivale a uma França ou ao estado da California”.

Pires se revolta com críticas, explica que leis são cumpridas e que a Constituição ampara o setor em relação às áreas produtivas; não temos que ficar escutando esse tipo de coisa na nossa casa, diz

Pires se revolta com críticas, explica que leis são cumpridas e que a Constituição ampara o setor em relação às áreas produtivas; não temos que ficar escutando esse tipo de coisa na nossa casa, diz

O pecuarista e diretor da Acrimat, Jorge Pires, lamenta o fato de não ter tido oportunidade para colocar a posição do setor durante o evento. Segundo ele, os produtores rurais têm muito mais amor à terra do que pessoas ligadas a organizações ou até mesmo o Greenpeace. “Respeito o trabalho delas, no entanto, é preciso deixar claro que nós defendemos essas áreas que são instrumento da nossa riqueza, do nosso sustento, da nossa família e não vamos deixar de preservar aquilo que dá sustentação à nossa família, Estado e país”, rebate.

O representante alega que é preciso deixar claro que existem leis federais e estaduais, que são cumpridas pelos produtores. Ele explica que a classe é contra o desmate ilegal, mas que a Constituição os ampara em relação às áreas produtivas, as quais podem ser trabalhadas. “Agora, se as organizações internacionais quiseram preservar até as terras produtivas, às quais temos direito, que venham aqui, comprem e transformem em áreas improdutivas, de preservação. Não temos que ficar escutando esse tipo de coisa na nossa casa”.