Ilpf aumenta em cinco vezes a produção de carne em Mato Grosso

Com uma produtividade de até 32 arrobas por hectare em um ano, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (Ilpf) conseguiu uma produtividade cinco vezes maior do que a média nacional e oito vezes maior do que a média de Mato Grosso
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Com uma produtividade de até 32 arrobas por hectare em um ano, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (Ilpf) conseguiu uma produtividade cinco vezes maior do que a média nacional e oito vezes maior do que a média de Mato Grosso. O resultado foi obtido no primeiro ano de avaliação do componente animal na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT).

URT com iLPF em Nova Canaã do Norte (MT)

URT com iLPF em Nova Canaã do Norte (MT)

A área avaliada conta com pasto de Brachiaria brizantha cv Marandu semeado após dois anos de lavouras de soja na safra e milho consorciado com braquiária na safrinha. Além disso, a área possui a cada 37 metros uma linha de eucalipto. As árvores proporcionam a ciclagem de nutrientes no sistema e acesso à sombra aos animais da raça Nelore.

O período de avaliação do gado foi de julho de 2015 a julho de 2016. Além da área de Ilpf, foram comparados outros tratamentos com pecuária exclusiva, com integração lavoura-pecuária (ILP) e em sistema silvipastoril (IPF), com renques de linhas triplas de eucalipto a cada 30 metros.

O melhor desempenho obtido foi na área que integra lavoura, pecuária e as árvores, com o ganho entre 29 e 32 arrobas por hectare. O segundo tratamento mais eficiente foi a integração lavoura-pecuária, sistema que vem sendo amplamente adotado em Mato Grosso. Em pasto formado após dois anos de lavoura, porém sem as árvores, a produtividade ficou entre 20 e 24 arrobas por hectare.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Bruno Pedreira, a produtividade obtida é reflexo do manejo adotado e da sinergia entre os componentes do sistema produtivo.

“Um bom manejo do pastejo, ajuste da taxa de lotação com orçamentação forrageira da fazenda, uso da lavoura e uso do componente florestal. Tudo isso para que se tenha os benefícios da lavoura, que propicia maior produção de capim, o benefício da árvore oferecendo ambiência e desempenho melhor para os animais, para que no fim do dia possamos colher mais num mesmo hectare de terra”, explica o pesquisador.

No sistema silvipastoril e na pecuária exclusiva, a produtividade média obtida no experimento foi em torno de 17 arrobas por hectare.

O número é menor do que nos sistemas precedidos pela lavoura, mas ainda assim é bem superior à média da pecuária em Mato Grosso, que está em torno de quatro arrobas por hectare, e à média nacional, de seis arrobas por hectare.

De acordo com Bruno Pedreira, esse número também deve ser ressaltado, uma vez que mostra que mesmo sem adotar a Ilpf, é possível aumentar a produtividade. Para isso, é preciso que o produtor faça a adubação de manutenção da pastagem e o ajuste da taxa de lotação em função da disponibilidade forrageira.

Em todos os tratamentos da pesquisa, a pastagem recebeu adubação de manutenção no mês de dezembro. Foram adicionados 50 kg de nitrogênio e potássio e 40 kg de fósforo por hectare. O pasto, por sua vez, foi manejado na altura de 30 cm, adicionando ou retirando animais de acordo com a demanda da planta forrageira. Os animais, que entraram no experimento com cerca de 335 kg, receberam suplemento proteinado de 0,1% do peso vivo.

Conforto térmico

Os resultados do primeiro ano de avaliação da pecuária de corte em sistema Ilpf também demonstraram a importância do conforto térmico para o ganho de peso dos animais. Mesmo tratando-se da raça Nelore, considerada mais rústica e adaptada às altas temperaturas, a disponibilidade da sombra apresentou resultados consideráveis.

Bruno Pedreira explica que, na avaliação, o ganho de peso médio diário variou de 660 g/dia no sistema com árvores para 550 g/dia do sistema sem arborização, o que resultou em uma diferença de oito arrobas por hectare.ilpf-2

“Penso que a gente achou aquilo que está escrito nos livros, que é o sinergismo entre os componentes. Quando a gente junta os componentes, há um ganho que não conseguimos nem pegar onde ele está exatamente. Mas tem mais oito arrobas a mais ali”, pondera.

Dados do comportamento animal também reforçam a tese do benefício das árvores para a pecuária no sistema Ilpf. Levantamentos feitos no mesmo experimento mostraram que os bois ficaram 90% do tempo de ruminação e 76% do seu período de ócio na sombra.

“Temos um indicativo de que o desempenho pode melhorar com a sombra. A única diferença que temos entre os tratamentos ILP e Ilpf a presença de árvores. Então, por algum motivo, em algum lugar lá dentro esse ganho está sendo aditivado ao sistema. Isso pode estar relacionado à ciclagem de nutrientes, à sombra, à temperatura. Há quem diga, inclusive, que os animais estão mais tranquilos com as árvores”, diz o pesquisador.

De acordo com Pedreira, é possível que no segundo ano do experimento sejam obtidas mais informações que ajudem a entender o efeito das árvores no desempenho da pecuária. Além da avaliação da qualidade da forragem, serão utilizados animais mais jovens, de 230 kg. Com este perfil, os bezerros tendem a ser mais sensíveis a alterações do ambiente, acusando de maneira mais acentuada os efeitos do sombreamento.

Outra novidade neste segundo ciclo de avaliação é o aumento da oferta de nutrientes para as forrageiras e de suplemento proteinado aos animais. Em ambos os casos, as doses serão dobradas, chegando a 100 kg de nitrogênio e potássio, 80 kg de fósforo e 0,2% de proteinado.

Parcerias

As pesquisas sobre Ilpf voltadas para a pecuária de corte na Embrapa Agrossilvipastoril são realizadas por meio de uma parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte) e Universidade Federal de Mato Grosso (Ufmt).

As instituições envolvidas acompanham de perto a pesquisa, por meio de reuniões, visitas técnicas e dias de campo. Para o superintendente da Acrimat, Francisco Manzi, os resultados obtidos reforçam uma iniciativa já presente no campo, que é a intensificação da produção.

“A intensificação é a grande saída para os pecuaristas tanto pelo aumento da rentabilidade, garantindo a sobrevivência do negócio em algumas propriedades, quanto pela diversificação das atividades e pelo atendimento da demanda da sociedade por uma produção maior em uma mesma área”, afirma Manzi, que ainda destaca o papel desta pesquisa no incentivo aos pecuaristas para que possam intensificar ainda mais a atividade.

Simpósio de Pecuária Integrada

Os resultados desta pesquisa estão sendo submetidos a publicações científicas. Entretanto, eles serão apresentados no dia 15 de outubro, durante um dia de campo, que faz parte da programação do II Simpósio de Pecuária Integrada (Simpi). O Simpi será realizado em Sinop (MT), de 13 a 15 de outubro.

Com o tema “Recuperação de pastagens”, o Simpósio irá discutir diversos pontos da cadeia produtiva da carne. Entre os assuntos abordados nas palestras estão a recuperação de pastagens, manejo de plantas daninhas e insetos-praga, Ilpf na recuperação de pastagem, nutrição e adubação de plantas forrageiras, produção de silagem, melhoramento genético animal, semiconfinamento e confinamento, desafios sanitários entre outros.

Um dia de campo na área experimental da Embrapa Agrossilvipastoril encerrará a programação, abordando a lavoura, a pecuária e o plantio florestal em sistema de Ilpf.

As inscrições para o II Simpi podem ser feitas pelo site www.pecuariaintegrada.com.br. O Simpósio é organizado pela Embrapa, Ufmt, Grupo de Estudo em Pecuária Integrada (Gepi), Senar-MT e MT Ciência.

Fonte: Embrapa Agrossilvipastoril