Indústrias param e governo deixa de recolher R$ 85,5 mi

Frigoríficos de bovinos, suínos e de aves suspendem atividades; assim como fábricas de lácteos, e estimam prejuízos milionários
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp

Prejuízos incalculáveis para alguns setores e milionários para outros. Esse é o resultado previsto por diferentes segmentos econômicos de Mato Grosso após 9 dias de paralisação dos caminhoneiros e empresas do transporte de cargas em todo o país, completos hoje (29). Frigoríficos pararam. Cerca de 16,5 milhões de bovinos deixaram de ser abatidos por dia na última semana, gerando perdas de R$ 36,5 milhões na pecuária de corte. Com a paralisação generalizada, deixaram de ser abatidos 79,8 mil suínos e 14 milhões de frangos nos últimos 7 dias no Estado, cujas cifras não foram informadas pelos setores. Indústrias de leite também fecharam as portas. Nos cofres estaduais, o impacto é grande. No período de paralisação, a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) estima que o governo deixou de arrecadar R$ 85,5 milhões, considerando a média diária de R$ 9,5 milhões. O valor inclui a arrecadação de ICMS sobre o setor de comércio em geral, exceto combustíveis, telecomunicações e energia elétrica, cujo pagamento do imposto entra no caixa do governo no mês subsequente ao faturado. Por isso, informa a Sefaz, não é possível estimar as perdas diretas provenientes deste segmento durante a manifestação dos caminhoneiros.

Outra demonstração do impacto do movimento nas estradas sobre a receita estadual pode ser mensurada pelas Autuações Globais, aplicadas na barreiras fiscais durante a fiscalização das mercadorias. De 1o a 20 de maio, elas totalizaram R$ 1,9 milhão, em média, por dia. Entre os dias 21 e 27, o valor caiu para menos de R$ 100 mil/dia. Já os valores decorrentes do Termo de Apreensão e Depósito (TAD) totalizaram cerca de R$ 1 milhão ao dia até 20 de maio, despencando para R$ 5 mil/dia com a paralisação. A Sefaz salienta que, do total do crédito constituído diariamente via TADs, 70% são recebidos imediatamente. O restante é questionado pelos contribuintes. Informa ainda que os TADs compõem o valor total das autuações globais.

Voltando ao setor produtivo, foram interrompidos os abates de bovinos nos 29 frigoríficos habilitados com Serviço de Inspeção Federal (SIF) e aptos a atender o mercado interno e externo, informa o Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo). Com isso, 84 mil trabalhadores ligados direta ou indiretamente à atividade estão ociosos. “O prejuízo é inestimável, não se pode falar dele porque não temos ideia de quando deixará de produzir seus efeitos”, comenta o vice-presidente, Paulo Bellincanta.

A produção começou a ser reduzida há 5 dias. Na última sexta-feira (25), 92% das empresas do setor deixaram de comprar gado para abate, segundo levantamento do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea). Diariamente, 16,5 mil bovinos deixaram de ser abatidos com a paralisação dos frigoríficos. Cálculos preliminares apontam que as perdas financeiras na pecuária de corte alcançam R$ 36,5 milhões por dia apenas com a comercialização dos animais destinados à indústria, informa a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). O montante não engloba a venda de carne pelos frigoríficos. Em nota, a Acrimat manifesta preocupação com a paralisação do transporte de cargas e espera que o governo e caminhoneiros cheguem a um acordo para normalizar as atividades em todo o país.

Prejuízos também são contabilizados nas cadeias produtivas da suinocultura e avicultura. Em Mato Grosso, 5 frigoríficos paralisaram os abates de frango e 5 interromperam os abates de suínos, informam a Associação Matogrossense de Avicultura (Amav) e Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat). Por dia são abatidos 2 milhões de frangos no Estado, afirma o secretário-executivo da Amav, Lindomar Rodrigues. Sem retirar as aves para o abate e sem condições de alimentá-las são esperados prejuízos ainda maiores. Sessenta e oito caminhões lotados com ração para as aves estão retidos nas rodovias de Mato Grosso. As cargas seriam destinadas a 386 aviários no Estado. “Pedimos ajuda à PRF e à Polícia Militar (PM) para passar com as cargas nos bloqueios”.

Episódios de canibalismo entre os suínos, motivado pela falta de ração, foram detectados por produtores matogrossenses. As remessas de farelo de soja e milho não chegam até as granjas, afirma o diretor da Acrismat, Custódio Rodrigues. Ele estima elevada mortalidade de animais se o transporte de cargas não for normalizado nos próximos 3 dias. Com a paralisação dos frigoríficos, 11,4 mil suínos deixaram de ser abatidos por dia em Mato Grosso. Com o quilo do suíno vivo cotado na média de R$ 2,86 atualmente no Estado e considerando que cada animal pronto para o abate pesa em média 120 kg, verifica-se que as perdas com a estagnação nos abates se aproxima de R$ 27,387 milhões em uma semana.

Conforme o diretor da Acrismat, o prazo de terminação de um suíno para abate é demorado, superior àquele mantido na avicultura, por exemplo. “Diferentemente da pecuária, não tem como colocar os animais no pasto”. Com a paralisação generalizada, deixaram de ser abatidos 79,8 mil suínos e 14 milhões de frangos nos últimos 7 dias.

Em todo o país, 167 frigoríficos de aves e suínos estão parados e com 234 mil funcionários ociosos, informa a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Cerca de 64 milhões de aves morreram e 100 mil toneladas de carne de aves e suínos deixaram de ser exportadas. O impacto na balança comercial do segmento está estimado em US$ 350 milhões. A entidade classifica como “caótica” a situação atual da indústria de proteína animal por causa do movimento grevista no transporte de cargas. “Após o fim da greve, a regularização do abastecimento de alimentos para a população poderá levar até 2 meses!”, diz trecho da carta aberta emitida pela entidade.

Outro produto que começa a desaparecer das gôndolas dos supermercados é o leite. Sem embalagens e sem condições de transportar a matériaprima, os laticínios começaram a interromper a captação de leite nesta segunda-feira (28) nas principais regiões produtoras do Estado. A iniciativa foi tomada por 3 grandes indústrias. “Difícil medir os efeitos da paralisação. São incalculáveis”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Mato Grosso (Sindilat), Antônio Bornelli.

Ao comentar o caos econômico e social instaurado com a paralisação dos transportes no Brasil, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi, admitiu que “pelo lado da agricultura e pecuária as coisas estão fora de controle, bilhões de aves e suínos ameaçados de morte por falta de alimentos”, além de navios esperando para embarcar mercadorias para exportação. Afirmou, ainda, que a economia brasileira está sendo asfixiada. “Todos estamos na iminência de um grave conflito social. A saída está na política, mas necessário algum tempo”, declarou por meio de redes sociais.

Paralisação dos caminhoneiros em números

  • 9 dias de protestos completos nesta terça-feira (28)
  • Quase 70 mil caminhões parados ao longo das rodovias e postos de combustíveis
  • 29 frigoríficos de bovinos com atividades suspensas. Com isso deixaram de abater 16,5 mil animais/dia
  • 5 frigoríficos de suínos suspenderam abate, deixando de receber 79,8 mil suínos em uma semana
  • 5 indústrias de frangos pararam, deixando 14 milhões de frangos nas granjas nos últimos 7 dias
  • R$ 85,5 milhões de ICMS deixaram de entrar nos cofres do governo de MT