Não é de hoje que as mulheres vêm assumindo posições de liderança em muitas áreas do mercado de trabalho. No agronegócio, elas deixaram de ser espectadoras de um segmento tradicionalmente masculino e se tornaram protagonistas de projetos de sucesso. E, na atividade pecuária, não seria diferente. Elas conduzem com êxito os negócios, vêm ganhando destaque e consolidando cada vez mais seu espaço na atividade.
Um exemplo é Ida Beatriz, pecuarista pantaneira, que sempre teve a atividade do campo como sua companheira desde criança. “A fazenda sempre foi uma protagonista na minha vida, dos meus irmãos e meus primos. Tenho grandes memórias dessa fase, uma época muito gostosa, em que marcávamos e vacinávamos o gado, íamos tomar leite madrugada no curral, saíamos com a comitiva dos peões e por aí vai. Esse vínculo com o meio rural vem desde minha tenra idade”, contou.
Mas foi somente anos depois, já em 2013, que começou a sua história de efetivo trabalho no campo, para auxiliar os negócios que eram conduzidos pelo pai. E foi ele, segundo Ida, quem a ensinou, na prática, sobre a atividade pecuária.
“Tive a possibilidade de conhecer de fato o que é o dia a dia de uma propriedade rural, quais são as dificuldades, a necessidade de um planejamento e a importância de uma equipe. Meu pai planejava e orçava tudo o que ia fazer, com muita antecedência. O tempo que passei com ele foi a melhor experiência da lida do dia-a-dia. Foi uma das decisões mais sábias da minha vida. A sucessão familiar minha e de meus filhos veio daí”, disse Ida Beatriz que é da quarta geração de pecuaristas da família.
No entanto, nem mesmo as portas abertas deixadas por seu pai, que faleceu e deixou parte da propriedade sob sua responsabilidade, a eximiu das dificuldades do negócio. “Desde 2013 vinha me envolvendo com a propriedade rural, até que em 2015 meu pai faleceu. Foi um infortúnio que não estávamos esperando. Ai acabei assumindo a propriedade. A dificuldade que eu tive, e que percebo, foi a respeito da informação sobre o que é o negócio e o que é relevante de fato na tomada de decisão”, afirmou.
A solução, segundo Ida Beatriz, foi a constante busca pela qualificação, tecnologia e por melhores resultados.
“Foi a partir do momento em que começamos a olhar a propriedade com essa forma muito mais profissionalizada, consistente e robusta, que as dificuldades foram se amenizando, o aprendizado não diminui, os desafios sempre aparecem, mas muda o olhar sobre a atividade rural. Quando você fala com a equipe e percebem que você conhece o assunto, que mostra resultados e cria uma relação de confiança e respeito na troca de conhecimento, o trabalho se desenvolve de forma mais conectada como o planejado. O seu comportamento e a forma como conversa com a equipe são determinantes no processo e cumprimento das atividades. *Você é uma mulher que está no campo, que faz parte daquela equipe e está para somar”, garantiu.
Segundo ela, a conversa hoje já não é da filha que outrora acompanhava os passos do pai. Hoje ela tem um papel importante de liderança dentro de sua propriedade e a missão de dar continuidade à abertura de novas frentes de trabalho para outras mulheres dentro do agronegócio.
“No começo foi desafiador, mas é importante que continuemos com coragem, diligência, competência, a abrir esses novos espaços de atividades. Conforme nos expomos, com capacidade e propriedade, ampliamos nossos limites. Essa é a proposta. As mulheres sempre estiveram na atividade rural, porém eram outras atividades. Antigamente não tínhamos técnicas no campo. Hoje temos mulheres em distintas atividades: veterinárias, agrônomas, zootecnistas, gestoras, operadoras de implementos e por aí vai” , disse.
“O papel da mulher no agro é fundamental principalmente na humanização, sustentabilidade e gestão. Esse universo está se ampliando significativamente com inserção de novas tecnologias. *Vimos como a mulher apareceu e foi versátil durante a pandemia. E é isso que ela vem fazendo na propriedade. Há muitas possibilidades e o mercado vem crescendo cada vez mais e demandando esse perfil feminino nas atividades. Nós, enquanto proprietárias, temos que adequar nossos espaços para receber essas profissionais. Estrutura e instalações para que elas consigam desenvolver o trabalho e com segurança”, completou.
Ainda segundo Ida Beatriz, é importante que as mulheres desenvolvam o trabalho gerencial e operacional nas propriedades, mas também é relevante que tomem frente nas atividades estratégicas e de liderança. Sobre o futuro da pecuária, Ida Beatriz diz que todo o caminho tem desafios e superações e espera que o já trilhado por ela seja caminhado por muitas mulheres, de uma forma mais leve, para que possam conquistar ainda mais espaço dentro da atividade pecuária.
“Nós somos responsáveis por contribuir com o espaço que nossa filhas e netas um dia ocuparão. É uma missão como mulher à frente do agro e ouso dizer de todos os setores. Nós não precisamos inventar a roda. Só precisamos olhar os modelos que estão dando certo: de empreendedoras, de produtoras, líderes e fazer com que essas informações cheguem às outras mulheres e, assim, faça com que essa troca de informações e experiência as estimule a se aproximar cada vez mais do agro e contribuir com o setor que tem melhor evoluído no país”, encerrou.