Na contramão da crise, pecuaristas fortalecem raça criada em Mato Grosso

Diante da crise econômica que assola o Brasil de ponta a ponta, a pecuária, um dos mais fortes eixos econômicos de Mato Grosso, ganha força com a criação de gado da raça Araguaia
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Foto – Raul Almeida Moraes Neto (Arquivo Pessoal)

Diante da crise econômica que assola o Brasil de ponta a ponta, a pecuária, um dos mais fortes eixos econômicos de Mato Grosso, ganha força com a criação de gado da raça Araguaia. O rebanho bovino no estado está entre os maiores do Brasil, competindo principalmente com seus vizinhos, da mesma região.

Conforme o presidente da Associação Brasileira dos Criadores da Raça Araguaia (ABCRA), Raul Almeida Moraes Neto, a precocidade da raça é o principal atrativo entre os pecuaristas. A novilha Araguaia entra em reprodução com 14 meses. O touro Araguaia também é utilizado no cruzamento industrial com o Nelore. A raça, por ser sintética e adaptada ao clima, melhora e barateia os programas de cruzamentos industriais. Ela proporciona ganhos em produtividade em torno de 30%.

“A precocidade produtiva e reprodutiva é muito importante economicamente para o criador. O resultado é uma relação excepcional entre custo e benefício”. Segundo Raul, os pesquisadores conseguiram tirar o que há de melhor de cada raça envolvida nos cruzamentos. Outra característica marcante do Araguaia é a alta taxa de conversão alimentar. “Facilidade de parto, precocidade sexual e elevada taxa de fertilidade também fazem parte da lista de vantagens”.

“Nós aumentamos a produtividade e reduzimos gastos e também impactos ao meio ambiente, pois enquanto uma fêmea de uma outra raça demora cerca de 24 meses para iniciar o período reprodutivo, uma fêmea da raça Araguaia entra na fase de reprodução com um ano. Além do ciclo mais curto, o maior ganho de peso pode ser notado na balança”, explica o pecuarista.

O fato é de suma importância diante do quadro que se estabeleceu em Mato Grosso. O mercado de carne bovina dá uma boa noção do tamanho da crise pela qual passamos este ano, já que a elasticidade renda do produto é elevada, o que indica alta sensibilidade a estes momentos. Diante disso, em 45 semanas pesquisadas até aqui, os preços dos cortes caíram em 60,0% delas. A cotação média atual cresceu menos que a metade do avanço da inflação do período, 3,7% contra 8,7% do IPCA.

E tem ficado claro que sem consumo de carne não há alta nos preços da arroba do boi gordo, pode faltar boi terminado ou o resultado dos frigoríficos bater recorde. Nos últimos sete dias, a margem da indústria se manteve entre 24,0% e 25,0% graças aos reajustes nos preços de subprodutos e derivados e a queda da arroba do boi gordo.

PIONEIRO

Raul Almeida Moraes Neto é pioneiro na criação genética da raça. Na fazenda Santa Rita, localizada em Torixoréu (565 km de Cuiabá), o pecuarista deu início à criação do gado Araguaia e, poucos anos depois, pecuaristas de todo o país já concordam com os benefícios da raça geneticamente modificada. “Os criadores agora têm a certeza de que a genética desses animais auxilia no rendimento e, consequentemente, em uma maior remuneração. Esse sempre foi um dos nossos objetivos quando pensamos nessa raça sintética”, afirmou.

Três raças diferentes foram usadas para fazer a composição da Araguaia: Nelore (Zebuíno), Caracu (raça europeia adaptada) e Blonde D’aquitaine (raça europeia continental). O objetivo era conseguir as melhores características de cada uma delas.

“Do Caracu, a Raça Araguaia herdou a adaptação às altas temperaturas, rusticidade, habilidade materna e o pelo curto. Do Blonde D’aquitaine, a musculatura forte e a pelagem clara, o que ajuda a minimizar a sensação térmica do calor, e do Nelore, o acabamento de gordura, adaptação e resistência aos parasitas”, explica o criador.

O Araguaia tem porte mediano, pele escura, pelos curtos e claros, o que ajuda a se adaptar bem ao calor da região onde está sendo desenvolvido. Isso significa uma raça com 62,5% de adaptação, o que torna o Araguaia extremamente produtivo às condições climáticas dos trópicos. O animal também é dócil, mais resistente e tem extraordinária habilidade materna que, na prática, significa que as fêmeas produzem bastante leite e os bezerros desmamam bem mais pesados. Enquanto um bezerro Nelore, de cinco meses e meio, pesa em média 185 quilos, um Araguaia, da mesma idade, pesa em média 275.

Os animais da Raça Araguaia foram os primeiros cruzamentos entre zebuínos e taurinos, com a finalidade de corte, a receberem o Certificado de Controle de Genealogia (CCG) pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) no Centro-Oeste do país. A certificação é importante para controlar a origem genética e a pureza racial dos animais.