Há muito tempo os pecuaristas pantaneiros vêm sendo responsabilizados por incêndios florestais, desmatamentos e outras formas de degradação ambiental no Pantanal mato-grossense, especialmente após o triste episódio que assolou a região em 2020.
Essa imagem negativa, propagada de forma imprudente por algumas entidades nos meios de comunicação, tem impactado não apenas o setor produtivo, mas também toda a comunidade pantaneira, que depende, direta ou indiretamente, da cadeia produtiva da pecuária para sua subsistência e sobrevivência.
O que grande parte da população que critica a atividade pecuária no Pantanal talvez desconheça é que essa mesma atividade, presente há mais de 300 anos na região, vem enfrentando sérios desafios de diversas ordens — econômicos, sociais e ambientais. Muitos produtores já não conseguem mais sustentar suas atividades e, diante disso, estão colocando à venda não apenas suas propriedades, mas também a história de inúmeras famílias e comunidades tradicionais pantaneiras.
A manutenção de uma propriedade no Pantanal é extremamente onerosa, o que eleva consideravelmente os custos, devido às características singulares de sua logística e geografia. Desde ações simples, como a contratação de mão de obra, a manutenção de cercas, o manejo reprodutivo, ou a realização de aceiros, tudo demanda maior esforço e investimento por conta das peculiaridades da região.
O objetivo deste artigo não é lamentar, mas sim enaltecer a singularidade do Pantanal, com suas características únicas e identidades próprias. As mazelas enfrentadas nos últimos anos, como a seca severa e a estiagem prolongada, felizmente não estão se repetindo. Nos últimos sete meses, o bioma recebeu o volume de chuvas esperado para um ano inteiro, conforme divulgado por um veículo de mídia nacional.
Diante desse cenário, o processo de secagem tende a ser mais lento, o que naturalmente reduz a janela de risco para incêndios florestais — uma notícia que traz alívio e esperança para a região.
A pecuária pantaneira, enraizada há séculos no bioma, sempre conviveu com essas variações climáticas. No entanto, continua sendo injustamente responsabilizada por problemas ambientais que são, na maioria das vezes, resultado de múltiplos fatores, muitos deles alheios à atuação dos produtores locais. Ignorar o papel sustentável que muitos pecuaristas desempenham é um erro que compromete o futuro de uma atividade que, quando bem conduzida, é compatível com a “exploração ecologicamente sustentável”.
O Pantanal precisa da pecuária, e a pecuária precisa do Pantanal. Essa relação simbiótica deve ser compreendida, respeitada e valorizada. Em vez de apontar culpados com base em generalizações, é necessário promover o diálogo, a ciência e as boas práticas.
Proteger o Pantanal não é excluir quem vive dele, mas sim incluir todos os atores na construção de soluções duradouras para a preservação de um dos biomas mais ricos e belos do planeta.
Dr. Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior
Diretor – Presidente da ACRIMAT
Associação de Criadores de Mato Grosso