O diretor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Anísio Vilela, que também preside o Sindicato Rural de Vila Rica (MT), fez recentemente uma declaração a respeito da situação da BR-158, que liga Mato Grosso ao norte do Brasil através da região do Araguaia. Nela, Anísio cobra das autoridades uma posição para resolver o problema que se estende por décadas, e que atrapalha o escoamento da produção daquela região.
“Venho aqui mais uma vez falar sobre a BR-158. Mais uma vez o produtor trabalha, faz a sua parte da porteira pra dentro, e mais uma vez estamos no descaso do governo federal, juntamente com todos os nossos deputados federais e senadores. O trecho da A BR-158 que até hoje está sem asfalto, está totalmente intransitável, uma estrada pela qual passavam 1,5 mil carretas por dia, e que hoje receba cerca de 2 mil carretas/dia, e nada é feito para resolver esse problema. Não resolvem nem com o traçado original, nem pelo contorno, e esse descaso está se consolidando na região do Araguaia, cada vez mais”, desabafa o pecuarista.
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Anísio assevera que o produtor paga seus impostos, e que sendo assim, ele deve ter seus direitos assegurados.
Após a situação da estrada federal vir à tona mais uma vez, com milhares de caminhões atolados na lama que se forma com as chuvas, a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra-MT) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) enviaram maquinários para limpar a estrada e liberar o tráfego. Contudo, só a pavimentação da rodovia, mediante início imediato das obras, poderá pôr fim aos problemas enfrentados pelos produtores rurais da região.
O avanço da infraestrutura logística para o escoamento da produção de grãos e outras commodities de Mato Grosso requer a pavimentação do ‘braço’ BR-158. O asfaltamento dessa importante rodovia vai viabilizar o escoamento de toda produção do nordeste mato-grossense pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, rumo ao mercado consumidor europeu, mais perto 5 mil milhas náuticas que o porto de Paranaguá, no Paraná.
BR-158
A BR-158 atravessa o Brasil de Norte a Sul. Ela começa em Altamira, no Pará, e termina em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, já na fronteira com o Uruguai. Os seus 3.864 quilômetros de extensão também passam pelos estados do Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A implantação definitiva da rodovia aconteceu no fim da década de 70, mas sua abertura teve início em 1944, dentro do projeto de interiorização idealizado pelo então presidente Getúlio Vargas.
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Dos pouco mais de 800 km da BR-158 no Mato Grosso, cerca de 120 km ainda estão sem pavimentação e que se tornam quase intransitáveis no período de chuva. É justamente o trecho que corta o Baixo Araguaia, entre Ribeirão Cascalheira e Vila Rica.
O trecho da BR-158 no Mato Grosso ainda sem licença prévia para asfaltamento é o que corta a terra indígena Maraiwatsede. Em nota, o DNIT revelou que “o trecho [da BR-158] que passa pela aldeia indígena Marawatsede está em processo de elaboração de projeto para um contorno que passará em volta da reserva”, sendo esta a única alternativa dada pelo governo como solução ao problema enfrentado pelos produtores da região.
Vale dos Esquecidos
A região do Vale do Araguaia, principalmente o Baixo Araguaia, é conhecido como “Vale dos Esquecidos”. Dados obtidos em um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) ajudam a explicar o triste apelido: a unidade do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mais próxima fica em Barra do Garças, a 800 km da região e, no início de 2008, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente fechou seus escritórios em Canarana, São Félix do Araguaia e Porto Alegre do Norte.
Se, por um lado, o asfaltamento da BR-158 em uma região com ausência do Estado causa preocupação, por outro pode significar a vinda do poder público para a região.