Pesquisas avaliam emissão de gases na pecuária em Mato Grosso

Pecuária ainda é vista de forma negativa por algumas pessoas que a vêem como uma ameaça ao meio ambiente

Apesar de sua importância na economia brasileira, a pecuária ainda é vista de forma negativa por algumas pessoas que a vêem como uma ameaça ao meio ambiente. Eventualmente é apontada como uma das principais responsáveis pelo desmatamento e emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil. No entanto, segundo especialistas, é fundamental entender que existe uma certa inconsistência nas informações apresentadas. Em função dessas incertezas e da relevância econômica e social da atividade, a cadeia produtiva de bovinos, bem como instituições de pesquisa e universidades têm buscado gerar informações técnicas e científicas confiáveis que possam embasar uma quantificação mais exata dos impactos positivos e negativos dos sistemas de produção de bovinos, além de identificar alternativas de produção que possibilitem minimizar os impactos da pecuária no meio ambiente.GADO8

De acordo com o professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Cassiano Cremon, o país tem um saldo positivo na emissão de gases do efeito estufa. Para muitos pesquisadores, a Amazônia seria responsável por esta salvação, mas o que foi descoberto é que a floresta ao Norte do país emite praticamente a mesma quantidade de gases que sequestra. O pesquisador diz ainda que, assim como a agricultura, a pecuária pode produzir sem causar prejuízos ao meio ambiente e até mesmo contribuir para a melhoria das condições ambientais. “Alguns estudos apontam para a vantagem da agropecuária já implantada e bem manejada, que pode sequestrar muito mais gases do que emitir devido aos microorganismos presentes na pastagem. Dessa forma, seguindo o exemplo da agricultura, a pecuária passa a desenhar um novo cenário. Contudo, um dos grandes desafios do setor é o de combater preconceitos e conceitos deturpados quanto à produção de proteína vermelha”, pontua o professor e pesquisador da Unemat.

A partir da hipótese de que o manejo adotado no milho, na pastagem e na soja da região sudoeste de Mato Grosso é benéfico para o sequestro de carbono, pesquisadores da Unemat estão desenvolvendo em uma propriedade localizada no município de Cáceres (225 quilômetros a Oeste de Cuiabá), pesquisas que poderão comprovar essa e outras possibilidades. Foi reservada uma área onde estão sendo cultivadas as sementes em diferentes épocas do ano para que se desenvolva um comparativo com outras matérias-primas, uma delas é a semente de girassol. A expectativa, tanto dos pesquisadores quanto dos proprietários e administradores da fazenda, é que em razão ao elevado nível de proteína, o girassol se apresente como um favorável elemento na nutrição animal devido aos componentes e custos.

O diretor de pecuária da Fazenda Ressaca, Ilson Corrêa, relata as estratégias e desafios para atingir 30 anos de seleção e um novo conceito na produção de animais reprodutores da raça Nelore, expandindo cada vez mais o mercado, tudo isso porém em um conceito da sustentabilidade. Segundo ele, nessas três décadas, criadores de diversos estados brasileiros investiram na Nelore Grendene ao verificar o potencial efetivo dos animais produzidos nos pastos de Cáceres. Os últimos 3 mil touros comercializados nas três primeiras edições do leilão da empresa foram distribuídos em treze estados brasileiros. “Chegar nesse patamar de evolução comercial e de avanço na genética exigiu esforços, rompimento de barreiras, estratégias e determinação. O que possibilitou o registro de uma história na pecuária brasileira marcada pela participação de parceiros fundamentais para uma evolução contínua. Uma delas é essa que fizemos com a Unemat, que nos possibilitou produzir gado de forma sustentável, respeitando o meio ambiente”.

Além de pesquisar a qualidade do óleo de girassol gerado em Cáceres, o que poderá ocasionar uma nova fonte de renda, a professora Tanismare Silva, coordena uma equipe também da Unemat que avaliará o teor nutritivo das sementes geradas em terras altas do Pantanal, com a finalidade de fornecer um novo componente para a silagem de animais. Também está em andamento um estudo inédito em terras altas do Pantanal para averiguar a eficácia na produção de girassol para silagem dos animais e para óleo, que poderão se apresentar como alternativas de renda para a região.

gado4Segundo Cremon, que é coordenador do projeto que estuda emissão e características do carbono, as propriedades rurais da região alta do Pantanal têm possibilidade de gerar renda com verba de outros países. Isso porque o Protocolo de Quioto prevê que os países incapazes de sequestrar gases prejudiciais à atmosfera, entre eles Estados Unidos e China, deverão pagar aos que desenvolverem essa habilidade. “Trabalhamos sob a suspeita de que a agricultura praticada nessa região, inclusive a pastagem, carrega grande potencial de se apresentar como exímia sequestradora de carbono, o que poderá gerar receita para a propriedade nos mercados de carbono afora”, pontua.

A equipe de pesquisadores da Unemat coletará solo de talhões dedicados à soja e ao milho para silagem, culturas consideradas sequestradoras potenciais de carbono, principalmente quando cultivadas por plantio direto. Ainda serão trabalhados espaços destinados à pastagem, mata nativa e pastagem com morte súbita. Em levantamentos prévios, Cremon já caracterizou o solo das regiões altas do Pantanal como áreas agricultáveis, ou seja, aptas ao cultivo de grãos, sem prejuízos ao bioma. Contudo, os resultados definitivos da pesquisa serão publicados no primeiro semestre de 2017.

As perspectivas mundiais para as próximas décadas são de aumento no consumo de alimentos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla do inglês Food and Agriculture Organization), estima que a demanda global por alimentos ira crescer 20% até 2020 (FAO, 2002), já que a população mundial continua a crescer, devendo atingir os 9,3 bilhões de habitantes em 2050 (ONU, 2007), e nos países em desenvolvimento, um grande contigente de pessoas está passando pelo processo de inclusão social, elevando seus padrões de consumo. Em todos os prognósticos o Brasil é apontado como o principal responsável pelo suprimento desse incremento na demanda, atendendo cerca de 40% dele. A produção brasileira de produtos agropecuários reduz pressões macroeconômicas e influencia os preços das commodities no mercado internacional. Dessa forma, o Brasil se faz importante num cenário internacional tanto por sua contribuição para a segurança alimentar quanto para as emissões globais de GEE.