Produção integrada apresenta resultados positivos

Fazendas de Mato Grosso colhem os bons resultados por terem adotado esse modelo de produção

Já é a quarta safra que a fazenda Gravataí, em Itiquira, adota o sistema de integração lavoura pecuária (SILP). O modelo de produção faz com que, uma mesma área onde são cultivados soja e milho, sirva também como pastagem para o gado. Isso é possível com o rodízio no cultivo das diferentes culturas, que tem apresentado resultados cada vez mais satisfatórios.

Gerente Alexandre Carlos Barazetti explica que a propriedade adotou dois modelos de rotação. Um deles faz o rodízio da soja e da braquiária. “Nós plantamos a soja quando começa o período das águas, colhemos entre janeiro e fevereiro, e logo cultivamos a braquiária. Uns três meses depois, em maio, colocamos o gado nesta área e garantimos que o rebanho consiga ter ganho de peso mesmo na seca e ainda acima da média”. Segundo ele, em uma pastagem tradicional, o ganho de peso é de, em média, 500 gramas ao dia. Já numa área de braquiária chega a 700 gramas por dia. “Esse ganho na produtividade paga a semente do capim, que não é nada barata”.

Outro modelo de rotação é feito com milho. As duas culturas são plantadas na mesma época. Quando o milho é colhido, o gado é solto no talhão. Além de oferecer um capim de maior qualidade para o gado, o modelo ainda garante uma maior produtividade de grãos. “Antes de adotar este sistema de integração, nós usávamos o milheto para fazer palhada para o plantio direto, só que a espécie não tinha uma boa profundidade de raiz como tem a braquiária. O capim consegue alcançar até um metro de profundidade, o dobro do milheto, levando nutrientes, umidade e matéria orgânica para o solo. Com isso a soja e milho desenvolvem melhor”.

GAZETA1Pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril de Sinop, Flávio Jesus Wruck, especialista em fitotecnia, destaca que estes e outros benefícios econômicos, que garantem aumento de produtividade e renda, são os principais atrativos para a adoção dos sistemas integrados nas propriedades mato-grossenses. “Quem faz a integração uma vez não volta atrás. Os benefícios são muitos”.

A exemplo da fazenda Gravataí, em outra propriedade assistida pela empresa na região Norte do Estado, que tinha como vocação a atividade pecuária, o rebanho passou de 1750 para 4700 cabeças num período de dez anos, sem contar o aproveitamento de parte da área para o cultivo de soja consorciado com braquiária.

A estratégia adotada pelo produtor, segundo Wruck, é a rotação de áreas ocupadas com pasto com a atividade agrícola num prazo máximo de 4 anos. “Quando o pasto já não está tendo bom desenvolvimento, apresenta sintomas de degradação, o produtor desseca o capim e usa ele como palhada para o plantio direto da soja. Depois que colhe a soja, ele planta a braquiária e faz uma safrinha de boi”.

Este rodízio garante um aumento na produção de forragem e, consequentemente, do rebanho. Sem contar os inúmeros benefícios para o solo. “O capim consegue melhorar a estrutura do solo. Isso porque o adubo jogado na soja não é todo aproveitado. Quando o produtor planta uma braquiária, ela atinge uma profundidade maior e aproveita todo o adubo excedente”.

Outro benefício apontado pelo pesquisador é que a palhada formada pelo capim também aumenta a capacidade de retenção de umidade pelo solo, o que se torna um grande diferencial em regiões como de Mato Grosso, onde os verânicos são comuns. “Além da água, o solo consegue reter mais nutrientes, reduz a temperatura do solo e ainda faz uma supressão de plantas daninhas, o que reduz o custo com herbicidas”.

Apesar dos investimentos necessários para implantar um sistema de integração, o retorno é garantido para o agricultor. Estudos feitos pela Embrapa apontam que, num prazo de 3 a 5 anos, o produtor tem o retorno financeiro. “Estamos com uma equipe da Embrapa e do Imea estudando dez unidades demonstrativas, dentro de fazendas que trabalham com diferentes modelos de integração no Estado, para desenvolver uma metodologia que aponte para o produtor o custo-benefício de cada modelo a ser implantado”.

Wruck destaca que são muitas as possibilidades de consórcios que podem ser adotados nas propriedades. A escolha depende de muitas variáveis, que são diferentes em cada propriedade. “Temos fazendas que trabalham com diferentes sistemas, como por exemplo, rotacionar o cultivo de soja e milho consorciado com braquiária, um ano soja com milho e no outro soja com braquiária. Propriedades que trabalham com lavoura e introduzem a pecuária somente nos talhões menos produtivos. São muitas as possibilidades”.GAZETA2

Uma das recomendações é que o produtor faça a implantação do novo modelo de produção de forma gradativa, avaliando os resultados e promovendo as mudanças necessárias. “Quando o produtor trabalha com lavoura e pecuária, ele tem uma complexidade maior na propriedade e precisa ter cautela. Por isso recomendamos que seja um processo gradativo. Mas a partir do momento que ele começa a trabalhar, é um caminho sem volta”.

Todos estes benefícios tem contribuído para a expansão da área consorciada em Mato Grosso. Atualmente, de acordo com levantamentos da Embrapa, 820 mil hectares trabalham com sistemas integrados no Estado, sendo 95% deles com lavoura e pecuária. A intenção é que esta área aumente consideravelmente nos próximos anos, chegando a 5 milhões de hectares até 2030. A estimativa tem como base o número cada vez maior de propriedades a adotar o modelo.

Nas fazendas São Marcelo, por exemplo, as terras que antes eram quase exclusivas para a atividade pecuária passaram a dividir espaço com a agricultura. O motivo: utilizar sistemas de integração para pagar as contas da reforma de pastagem. Gerente Daniel Eijsink explica que, desde que a fazenda foi aberta, há 20 anos, o pasto nunca passou por uma reforma. No modelo tradicional, o custo ficaria muito alto. Já utilizando sistemas de integração lavoura e pecuária, todo investimento é pago com a venda dos grãos.

A primeira propriedade a adotar o modelo de produção está localizada em Juruena, na região Noroeste do Estado. Dos 25 mil hectares destinados à pecuária de cria, 400 receberam sementes de milho. O investimento inicial para deslanchar o projeto demandou investimentos de R$ 1,5 milhão. O valor custeou as despesas com o preparo da terra para receber a cultura, além do pacote tecnológico para plantar (insumos, adubos e sementes de milho).

A intenção era cobrir as despesas da implantação da lavoura em três anos, mas com o preço do milho em alta, a conta já zerou. “O preço do milho já pagou os investimentos. Mas como é um ano atípico, vamos manter nosso planejamento de pagar os investimentos em outras áreas num prazo de até três anos”.

Com estas projeções, a meta do grupo é ampliar de 400 para mil hectares a área integrada no próximo ano, e expandir até recuperar os 9 mil hectares de pastagem existentes na propriedade. Além dos custos serem pagos com a atividade agrícola, outro ganho, segundo Eijsink, é aumentar lotação de animais por hectare. “Hoje nós trabalhamos com a média de um animal e meio por hectare. Com maior oferta de alimento com rico valor nutricional, que é o caso da braquiária, este número será muito maior. Sem falar do ganho de peso, que também será muito maior”.