Proibição dos russos à carne brasileira é pressão comercial

Na decisão anunciada sexta-feira, o Serviço Federal de Vigilância Sanitária e Veterinária da Rússia alegou que foram identificadas substâncias fora dos padrões na carne bovina desses frigoríficos brasileiros
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp

Não fosse o estigma criado pela Operação Carne Fraca sobre a imagem da carne brasileira no exterior, a proibição temporária da Rússia à importação de carne do frigorífico Mataboi, e a exigência de controles sanitários mais rígidos a outros exportadores (JBS, Frigoestraela, Frigol e Frigon), seriam apenas mais um capítulo de rotinas comerciais desse mercado entre os dois países. Este tipo de exigência sanitária e a proibição de exportação feitas pelos russos já aconteceram no passado, independente da Carne Fraca. Trata-se, dizem os especialistas, de uma estratégia comercial para pressionar por melhores preços ou vantagens comerciais, dizem os especialistas.

Cesar de Castro Alves, analista de mercado da MBAgro, lembra que antes mesmo da Carne Fraca — operação deflagrada em março deste ano pela Polícia Federal contra fraudes na fiscalização de frigoríficos –, os russos sempre criaram, de tempos em tempos, barreiras à carne brasileira. Segundo ele, a exportação de carne bovina cresceu este ano para a Rússia e, depois de um fluxo forte nos embarques, estoques podem ter se acumulado, levando à decisão de impor mais barreiras ao produto brasileiro.

Na decisão anunciada sexta-feira, o Serviço Federal de Vigilância Sanitária e Veterinária da Rússia alegou que foram identificadas substâncias fora dos padrões na carne bovina desses frigoríficos brasileiros. Mas não especificou que tipo de substância, ou quais lotes estariam com problemas.

“Os russos sempre foram protecionistas e são um parceiro importante do Brasil. Eles já criaram barreiras para o produto brasileiro outras vezes, mesmo antes da Carne Fraca. Em 2011, por exemplo, proibiram a exportação de carne suína brasileira, o que criou um problema porque não havia como escoar o produto. Portanto, a decisão de proibir a exportação de carne do Mataboi e impor mais exigências sanitárias aos outros frigoríficos nada tem a ver com a Carne Fraca. É mais um movimento do jogo comercial entre os dois países”, diz Castro Alves, lembrando que os russos foram os únicos importadores que não impuseram nenhuma barreira ao produto brasileiro na época da Carne Fraca.

Segundo uma fonte que não quis se identificar, os russos agora estariam interessados em vender trigo e pescados ao país. Como um acordo com o governo brasileiro para suspender barreiras à importação desse itens não avança, os russos começaram a criar dificuldades às carnes brasileiras. A Rússia compra 11% da carne bovina nacional exportada, e 40% da carne suína.

As exportações de carne bovina para a Rússia cresceram 12% entre janeiro e setembro deste ano, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O que faz do país o terceiro maior destino da carne bovina brasileira, atrás de China (segunda colocada) e Hong Kong (o maior comprador). Até setembro, os russos compraram 116.831 toneladas, o equivalente a US$ 375,08 milhões.

Os russos costumam usar os embargos também como forma de negociar preços, diz Alex Santos Lopes, analista da Scot Consultoria. Não é uma ação declarada. Para Lopes, não há neste momento possibilidade de questionamentos da qualidade da carne brasileira por outros países, como aconteceu durante a Carne Fraca.