Vacas criadas em áreas de sombra têm 20% mais embriões, aponta Embrapa

Estudo premiado feito em São Carlos (SP) mostra que produção integrada agroflorestal é mais produtiva do que a convencional.
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp

Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), comprovou que vacas que vivem em áreas sombreadas em sistemas integrados de produção (com lavoura, pecuária e floresta) produzem quase 20% mais embriões do que os animais que ficam ao sol.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Alexandre Rossetto Garcia, o conforto térmico interfere na eficiência reprodutiva dos animais.

Os animais criados no sistema Integração Lavoura- Pecuária-Floresta (ILPF) apresentaram taxa de produção de embriões 43%, enquanto os que vivem em pastagens convencionais produziram 36%. A diferença de sete pontos percentuais representa quase 20% a mais no número de embriões.

O experimento foi realizado pela doutoranda Amanda Prudêncio Lemes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal (SP), orientada pela professora da Unesp Lindsay Gimenes e coorientada por Garcia.

Foram avaliadas 18 vacas da raça Canchim de primeiro parto com bezerro ao pé, entre os meses de dezembro de 2016 e maio de 2017, e comparadas com fêmeas que ficaram em uma área com mesmo tamanho e tipo de pastagem, mas com sombreamento mínimo. O estudo foi desenvolvido na fazenda Canchim, onde funciona a Embrapa Pecuária Sudeste.

“Eu queria comparar os animais com maior estresse calórico e menor estresse calórico. Em dezembro e janeiro, a gente pega os momentos de extremos climáticos de altas temperaturas com alta umidade relativa do ar. Abril e maio já são meses transicionais, caminhando para o inverno, a quantidade de chuvas reduz, a temperatura começa a declinar e a condição térmica de maio e muito diferente da de janeiro, então a gente queria ver se ao longo do tempo o sistema tinha uma efetividade considerando que o desafio ambiental ia mudar ao longo do tempo”, explicou Garcia.

Ao longo dos meses foram avaliados indicadores como o nível de cortisol (hormônio do estresse), progesterona, avaliação de temperatura de superfície desses animais e taxa de produção de embriões das fêmeas.

Para produzir os embriões, os pesquisadores aspiravam os óvulos das vacas, que eram levados para a um laboratório particular em Cravinhos (SP), onde eram inseminados artificialmente. Os animais não passaram por tratamento hormonal.

“A taxa de embriões foi maior naqueles animais com conforto térmico maior. Os resultados mostraram que o microclima mais favorável observado no sistema ILPF, com menor incidência de radiação solar sobre os animais, contribuiu para o aumento na produção de embriões”, afirmou Garcia.

Segundo o pesquisador, o calor produz uma condição de estresse ao animal que reduz a sua eficiência reprodutiva por alterações metabólicas e endócrinas que são consequências da liberação cortisol que é um dos marcadores de estresse.

“Todas as vezes que um animal entra em uma condição de estresse causa para o produtor prejuízo grande”, disse Garcia.

A pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Embrapa, foi premiada na 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões, considerada o maior congresso de reprodução animal do país.

Sistema integrado de produção

O Brasil tem quase 12 milhões de hectares em sistema de produção integrado agropecuária-floresta.

A tecnologia consiste na diversificação e integração dos diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais, dentro de uma mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, em uma estratégia de produção sustentável.

“Quando você integra agricultura a pecuária e a floresta você tem uma série de ganhos. A pastagem ou qualquer atividade de monocultura vai espoliando o ambiente ao longo do tempo. Quando integra agricultura com a pecuária, a agricultura por si só exige já obriga a adubação da área para fazer o plantio, o que já retorna para o ambiente uma cota de fertilizantes. Quando você incorpora árvores no sistema, você aumenta o teor de matéria orgânica, de capacidade de fixação de carbono, de retenção de água no solo, de conforto animal e até da qualidade do capim”, explicou o pesquisador.

Em um estudo recente, a Embrapa Pecuária Sudeste constatou que a criação de animais em sistemas integrados indicou que matrizes de corte que permanecem em área sombreada procuram menos os bebedouros. A frequência em busca de água chega a cair 19% em sistemas com árvores. Outra pesquisa mostra que os animais criados nesse sistema tem melhor ganho de peso.

Além das vantagens produtivas, Garcia ressalta que há ganhos mercadológicos.

“Cada vez mais o consumidor é consciente do produto que ele adquire na gôndola do supermercado. A questão do bem-estar animal é importante para a gente alcançar níveis de exigência requeridos pelo mercado, para que a gente possa fazer produção de alimentos dentro de um padrão ético de excelência, oferecendo para os animais o ambiente mais amigável possível e para que a gente possa, no futuro, não ter nenhum tipo de barreira colocada para os produtos brasileiros no mercado externo.”