Valor recebido não cobre custos

Criadores de Mato Grosso estão recebendo R$ 131,99 pela arroba do boi gordo, enquanto que o ideal seria R$ 146,87

A arroba do boi gordo está sendo vendida por uma média de R$ 131,99 em Mato Grosso. O valor é 1,86% menor que em igual período de 2015, quando custava R$ 134,50. Apesar de a cotação ser a 2ª maior para esse mês em toda a série histórica, iniciada em 2009, ainda está abaixo do valor calculado pelos criadores para cobrir os custos, de R$ 146,87. Esse preço considera a correção inflacionária com base no acumulado de 2015, que foi de 11,28%. A condição é considerada desestimulante para o setor e estabelece barreiras para modernização do manejo.

Os preços são apurados pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), que pesquisa outras atividades da pecuária de corte. O preço da arroba da vaca, por exemplo, está relativamente estável, com queda de 1,52% em 1 ano, considerados os valores da última semana de maio. Em 2015, a arroba da vaca custava R$ 127,11 enquanto que este ano está R$ 125,17. Mas, conforme projeção do consultor do mercado agropecuário, o economista da Acrimat, Amado de Oliveira Filho, o valor deveria estar em pelo menos R$ 139,38, conforme a inflação acumulada no ano passado.

A mesma situação ocorre com o preço do bezerro de 12 meses, cotado a R$ 1,286 mil (cabeça). Há 1 ano era vendido por R$ 1,311 mil. Contudo, o valor estimado pelos criadores é de R$ 1,431 mil. “Apesar da relativa estabilidade de preço no mercado, ocorre uma inflação que corrói as margens de lucro, cada vez mais apertada para o produtor, em razão do custo de produção elevado”, avalia Oliveira Filho.

O especialista avalia que não está havendo remuneração equivalente aos criadores. “O problema está entre o setor secundário com o primário, ou seja, os frigoríficos não estão pagando o deveriam aos criadores. Basta avaliar a disparidade que ocorre com o preço cobrado do consumidor final, que não teve retração no período, enquanto que para o produtor houve queda”, pondera o consultor.

FALTA DE ESTÍMULO – Amado de Oliveira Filho explica que o valor da carne bovina tem sido desestimulante para os criadores mato-grossenses. “Isso significa menos investimento em tecnologia ou ampliação na produção. Nos últimos anos, a lucratividade do produtor tem sido em razão do aumento da produtividade e não pelo preço negociado em si”.

A situação também é ressaltada pelo boletim semanal da bovinocultura, divulgado pelo Imea. “Já não é novidade que exista uma dificuldade de diálogo entre os elos da cadeia da bovinocultura de corte em Mato Grosso. Apesar disso, o pecuarista mato-grossense ainda tem recebido valores aquém de todos os principais mercados de carne bovina do mundo. Para se ter uma ideia, o preço pago pela arroba do boi gordo em Mato Grosso no mês de abril foi de US$ 137,26. Gastos com o transporte da proteína e a dificuldade de acesso a mercados mais exigentes no exterior afetam o valor recebido pelo produtor do Estado”, ponderam os técnicos do Imea.

OUTRO LADO – A reportagem fez contato telefônico com representantes do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo/MT) para comentar sobre a queda no valor pago pela arroba aos criadores, bem como acerca da manutenção dos preços elevados nas gôndolas. No entanto, até o fechamento desta edição as ligações não haviam sido retornadas.